Cabala Judaica #9: As Cascas e A Fome

Dor, prazer e a retificação do mundo.

Aqui e agora.

Vivemos em uma caixa, de onde só sabemos o que há fora através dos sentidos. Ou essa é a descrição corrente nas últimas décadas ao se falar sobre cabala. Não é um solipsismo. A cabala admite a existência do mundo exterior. O que a cabala nega é a capacidade de conhecer o mundo exterior através dos sentidos. Seria necessário um “sexto sentido”, um sentido não ligado ao plano material, para conseguirmos saber o que realmente há lá fora.

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Cabala Judaica #8: A Sabedoria Contemplativa (meditação cabalística)

Chokhmah Nistaroth

A expressão do dia é chokhmah nistaroth: a sabedoria contemplativa. As primeiras letras (chet e nun) formam chen, graça.

Há pouca evidência registrada sobre o funcionamento da meditação no judaísmo, exceto nos círculos fechados de estudos sobre cabala, claro. Especificamente, em grupos com linhagem bem definida. Não é exatamente segredo, é só uma daquelas coisas difíceis de explicar para quem está de fora.

Aqui vemos a cabala em sua essência:

  • Cabala (kabalah: quf, bet, lamed, he) = 137
  • Sabedoria (chokhmah: caf, chet, mem, he) = 73
  • Profecia (nebuw’ah: nun, bet, vav, alef, he) = 64

Cabala = Sabedoria + Profecia

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Cabala Judaica #7: sobre Cabala e Vinhos II – o diário mágico

No outro post, comparei o trabalho de aprendizado da cabala com o treinamento de um enólogo. Repito:

Mas entender isso é como treinar para ser enólogo, esses cheiradores de vinhos. Cada vinho é diferente. Cada esfera é diferente. É quase impossível associar o gosto sorvido em um cálice ao excesso de iodo no solo onde cresceu o carvalho do barril usado para envelhecimento do vinho. Mas esse iodo influencia no gosto final. E o gosto pode ser detectado. Só que ele não vai ser descrito como iodo, mas como metálico, seco, alto.

Assim é com as esferas. É impossível sentir diretamente a harmonia de Tiferet, mas é possível sentir quando nossas ações parecem se encaixar perfeitamente… “em Malkuth”, através do mundo material. Uma música bem executada, uma pintura bem equilibrada. A bola de basquete que sai da mão do jogador e todos têm certeza de que acertará o alvo.

Da mesma forma, nossos sentidos não sabem identificar corretamente as pressões do mundo emocional, mas o descrevem inicialmente com sensações semelhante associadas à onipresença das emoções, à natureza difusa da passagem do tempo, à dificuldade de locomoção, ao fato de estarmos à deriva sofrendo da vontade das outras almas nesse mundo. No caso da magia ocidental, se interpreta, predominantemente, o plano astral como água.

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Cabala Judaica #6: sobre Cabala e Vinhos I – a árvore simplificada

Sobre a árvore da vida, sem a complicação de mundos, reinos, elementais, nomes de deus e demônios arquetípicos

Vamos mais um passo atrás…

Tudo é a mesma esfera, tudo é aqui

A árvore da vida, Etz Chayim, é um diagrama que representa os aspectos do ser humano distribuídos em dez esferas. Apesar dos trabalhos de pathworking, pathfinding, viagem entre esferas etc. Não seria correto afirmar que estamos em Malkuth. Somos seres que existem em todas as esferas ou, mais condizente com a cabala judaica: “Malkuth é onde todas as esferas entram em contato”, onde os atributos de Keter, Chokhmah, Binah, Chesed, Gevurah, Tiferet, Netzach, Hod e Yesod ganham materialidade. Todas ao mesmo tempo.

Mas entender isso é como treinar para ser enólogo, esses cheiradores de vinhos ou cervejólogos se for de preferência. Cada vinho é diferente. Cada esfera é diferente. É quase impossível associar o gosto sorvido em um cálice ao excesso de iodo no solo onde cresceu o carvalho do barril usado para envelhecimento do vinho. Mas esse iodo influencia no gosto final. E o gosto pode ser detectado. Só que ele não vai ser descrito como “iodo”, mas como “metálico”, “seco”, “alto”. Assim é com as esferas.

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Cabala Judaica #5: Coisa, dvar – D’us criou as coisas pelas palavras

Depois dessas coisas1, a palavra2 de IHVH veio a Avrão em uma visão dizendo “Avrão, não tema: eu sou teu escudo e tua recompensa é grande”. (Bereshit 15:1)

Este texto dá um passo para trás, para avaliar a relação do hebraico com as palavras. Em especial, com a palavra “palavra”. Não se deixe confundir.

A palavra que seria traduzida para o Português como “coisa” é “dvar”. A árvore é uma dvar, o rio é um dvar, o céu é um dvar, uma pessoa é dvar. Mas, em hebraico, o significado de dvar é “palavra”. Então, quando o professor diz “D’us criou todas as coisas (dvarim)”, o aluno também escuta “D’us criou todas as palavras”.

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Cabala Judaica #4: Aiq Bkr, ou a cabala das nove câmaras

Letras, números, decimais, sigilização, aiq bkr.

O nome Aiq Bkr indica uma simplificação do uso dos números da cabala. Outro nome para a codificação é Mispar Katan, em oposição a Mispar Gadol No Aiq Bkr, reduzem-se as dezenas e centenas do Mispar Gadol para unidades. 10 e 20 (Yud e Caf) tornam-se 1 e 2; 300 e 400 (Shin e Tav), 3 e 4; de modo que todas as letras têm apenas valores abaixo de 10. O nome indica a formula. Aiq (alef, yod, quf) valem 1; bkr (bet, kaf, resh) valem 2; e assim por diante. É comum usar a fórmula como nome. O nome At Bash, por exemplo, também indica uma fórmula de substituição. No caso, a primeira letra pela última (at, alef por tav), a segunda pela penúltima (bash, bet por shin) e assim por diante.

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Cabala Judaica #3: Mesmos números, mesmas energias

Disse Deus mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome. (Bereshit/Gêneses 17:15)

A maioria das pessoas fica imediatamente curiosa, intrigada com a ideia de manipulação de energias através da combinação dos valores numéricos. Há duas coisas a serem ditas a respeito:

  1. Não foi para isso que o sistema gemátrico foi criado.
  2. Apesar disso, funciona.
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Cabala Judaica #2: Sefirat haOmer, contando esferas

Sefirat, SFR, esfera, conta, cálculo, pedra, rolo.

A vida do judeu é uma estrada circular.

Sefirat vem da raiz S-P-R. Dela se originaram as palavras esfera, safira. O sentido se estende para conta, cálculo. Ambos com sentido de pedra e de operações matemáticas. Com S-F-R também se escreve sefer, rolo, especialmente no sentido de pergaminho enrolado, a forma como se guardavam os “livros” de antigamente e, até hoje, é a forma adotada para a Torah nas sinagogas.

O sentido de “contar pedrinhas” sobrevive em mitos muito antigos, alguns até ensinados em colégios hoje em dia. “Como o homem começou a contar?” “Ele pegava uma pedra para cada ovelha. Colocava as pedras em um saco e sabia quantas ovelhas tinha contando as pedras no saco, em vez de contar as ovelhas.” Parece mais trabalhoso do que só contar ovelhas, mas ainda assim é uma explicação aceita. O nome para a “numerologia grega” segue a mesma tradição: isopsefia (igual + pedregulho).

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Cabala Judaica #1: Cabala é mera poesia

Cabala, sod, raz. Torah, instrução. Cabala, tradição.

Um estudante ficou de pé diante da turma e perguntou: “Meu mestre, os acadêmicos de hoje insistem que os textos da Torah são só contos e que o que preservamos é só um conhecimento anedótico de gerações e gerações perdidas na história. Podes responder, meu mestre, se cabala é mera poesia?”

Diz a lenda que, uma vez, há muito, muito tempo, todos sabiam o que o cajado de Moshé simbolizava, assim como hoje todos sabem que três luzes de cores vermelha, amarela e verde formam um semáforo. Ou uma sinaleira, ou um farol. Mesmo que discordassem do nome pelo qual chamar o cajado, a “coisa de bronze”, nechosheth, era algo do cotidiano.

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