Magia Talismânica e Animismo

Após a nossa discussão geral sobre amuletos, iremos agora para uma outra camada com ênfase na cosmovisão nórdica. O animismo é uma das bases desse paradigma, e regula todos os aspectos da prática mágica; compreendê-lo forma toda a estruturação da criação de um talismã nórdico.

Definindo primeiro o animismo, consiste na ideia de que tudo na Natureza possui um espírito, uma alma, uma energia latente que pode conceder vida e Consciência; desde os seres do reino animal, até os vegetais e árvores, pedras e montanhas. Os landvættir consistem em manifestações animísticas da Consciência e alma de territórios, colinas, montanhas, rios e outros aspectos geográficos. Dentro desse princípio, um fragmento de algo maior (o galho de uma árvore, uma pequena pedra de uma grande montanha…) carrega traços de onde veio e se liga à “fonte” através das relações de teia que nos ligam. Uma vez que é um assunto extenso, recomendo àqueles que desejarem se aprofundar os livros da “Trilogia Heathen“; também deixarei links de alguns materiais no final do texto.

Amuleto rúnico inscrito em osso, encontrado na Suécia

Tendo isso em mente já temos um vislumbre de como a confecção de um talismã (prática chamada de “taufr” em nórdico antigo, palavra que também pode se referir ao objeto talismânico em si) é complexa dentro de uma ritualística nórdica. O autor Edred Thorsson em seu livro Futhark descreve o procedimento desde a coleta do material, onde propõe palavras poéticas como petição ao espírito da árvore cujo galho foi escolhido como suporte; é comum que sejam feitas oferendas à árvore nessa etapa, em reconhecimento não apenas ao espírito dela como também estabelecendo uma relação de troca. Assim, um amuleto é algo que pode carregar vida em si desde a escolha do material caso madeira, pedra ou metal sejam empregados.

Amuletos de madeira com o sigilo do Tear da Urðr

Além do material, os símbolos e palavras empregados em um talismã também precisam ser despertados e receberem vida. Isso é feito concedendo önd (palavra em nórdico antigo que designa tanto a energia vital quanto a respiração) aos sigilos, sendo comum o gesto de soprar o amuleto; mitologicamente, temos uma referência a esse gesto quando os deuses sopram os primeiros humanos que haviam sido esculpidos em madeira e assim os concedem vida. Sob o ponto de vista nórdico, a capacidade vibrar os fios no Tear da Urðr vem do emprego do önd, de haver vitalidade – também é possível fazer um paralelo com sons, com a forma que o ar vibra como um reflexo do Tear também se movendo e se moldando.

É por isso que uma etapa muito forte na magia nórdica é a morte dos amuletos – como seres vivos, eles também morrerão quando sua energia vital se esgotar (quando ela já foi lançada totalmente no Tear, resultando nas mudanças). Thorsson dedica um texto em seu livro a esta etapa, descrevendo o processo de desfazer um talismã como um ritual fúnebre. Amuletos que são de uso contínuo ao invés de possuírem um propósito de realização específica (como um de proteção ou boa sorte geral) ou Instrumentos mais permanentes normalmente exigem contato constante com o usuário (“se alimentando” de sua energia), emprego em rituais (adquirindo energia a partir daquelas liberadas na prática) ou manutenção constante.

Dentro de uma visão de mundo nórdica, os taufr são seus aliados e companheiros. Eles percorrem a jornada conosco pois também estão vivos, passando por crescimento ou por um ciclo particular tal qual nós. Devemos criar uma relação de respeito e reverência com eles, como parte do reconhecimento do espírito que há em tudo que nos cerca.

Sjáumst bráðlega!

-Ravn

Materiais sobre animismo: texto da Heathenry&Liberdade | Vídeo de Arith Härger, com legendas em português

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