Demônios imaginados: os Shamashim

Em Chanuka, o costume judaico é acender um candelabro, chamado chanukiah, com oito velas. Chanuka é uma festividade de 8 dias. A cada noite acendem-se o número de velas do dia respectivo. Uma na primeira noite, duas na segunda noite, três na terceira… Mas, se você prestar atenção, verá que as representações da chanukiah têm 8 velas. A chanukiah de verdade tem 9 velas. A nona vela é chamada de shamash.

A tradução comum para shamash é “ajudante” ou “servidor”. Essa vela extra deve ser colocada sempre em um lugar separado das demais velas para que a chanukiah seja considerada kosher. O papel da shamash é, tradicionalmente, o de acender as demais velas, representando a chama eterna que permaneceria acesa no Templo em Israel. Leituras modernas da Torah indicam que ela representa a espera paciente pelo vinda do Messias. Leituras antigas dizem que o Rei Salomão teria capturado um djinn, obrigando-o a realizar todos os seus desejos.

Uma vez que Salomão enganou o djinn, ordenando algo que não pudesse ser realizado, o pequeno demônio tornou-se seu escravo, garantindo a Salomão poderes mágicos sobre seu destino e sobre o destino do povo judeu.

Shamash também é o nome dado ao Sol ou ao “deus do Sol” em narrativas babilônicas. Associado ao deus Utu na Mesopotâmia, reverenciado na Acádia sob o nome semita, Shamas, ele era em geral benevolente. Utu, no mito de Gilgamesh, cumpre papel de personagem adjuvante, que ajuda o herói em sua jornada, sendo descrito como um deus educado e bondoso. Os Canaanitas utilizavam a mesma palavra para uma deusa feminina. Em todos os casos, Shamash cuida da agricultura e, principalmente, do gado. Sua adoração era aceita como a de qualquer outro deus ou D’us junto aos hebreus até a morte do Rei Salomão.

Com a morte do Rei e a divisão do reino, os conselheiros de Roboão e Jeroboão (reis que sucederam Salomão na regência da Israel dividida) sugeriram eliminar as ligações de Salomão com os djinn. Consideravam a magia obra dos falsos deuses. E desconfiavam de quem tivesse poder próprio, não vindo de D’us ou, pelo menos, não vindo da religião instituída.

O trato de Salomão com Shamash não se extinguiu com a morte do Rei, e o djinn recusou afastar-se do povo hebreu. Os conselheiros dos reis enganaram o djinn para que cumprisse um outro trato. Protegeria os hebreus e seus decendentes apenas em Chanucá, quando o povo se afastava da Luz e do Sol verdadeiros, precisando do auxílio do djinn para protegê-los. No primeiro Chanucá depois do novo trato, Shamash se afastou de seu lugar no Templo e dividiu-se em milhares de pequenos shamashim, para proteger cada judeu em cada casa onde habitavam.

Os conselheiros dos reis sabiam que, assim, Shamash estaria enfraquecido e ensinaram o povo a acender uma chanukiah, prendendo cada pequeno shamashim com a prece de Chanucá. O Templo ficou livre para o D’us único, sem a interferência do djinn, ou dos antigos deuses — disseram os Roboão e Jeroboão a seus suditos.

Mas nossa história não para por aqui. A prece de Chanucá até hoje convoca os shamashim para a proteção dos judeus durante a festa das luzes. O pequeno djinn fica preso ao shamash, a vela auxiliar que acende todas as outras velas. No ritual noturno, é indicado aos judeus que acendam o shamash, usem o shamash para acender as outras velas e apaguem o shamash. Ao apagar a vela auxiliar, impedem que o djinn termine seu trabalho de “auxiliar os judeus em Chanucá”.

Neste ano de 2018 da Era Comum, a primeira noite de Chanucá será dia 2 de dezembro. Nessa oportunidade, ao acendeu sua vela, faça uma boa ação e deixe-a queimar até o fim. O pequeno shamashim que mora nela ficará feliz e, quem sabe, lhe concederá um pequeno desejo.

Shbaa.

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