
Eu tenho uma visão “boazinha” sobre qliphot. Ingênua, talvez, dizem. Não consigo ver o terror e a destruição que as pessoas gostam de vender quando falam em cascas inferiores e blah blah blah. Nada melhor do que investigar pessoalmente.
Já usei esse exemplo aqui. Todos comemos, mas se comermos sem “propósito”, se comermos adoçante, por exemplo, só porque é doce, ou só porque todo mundo diz que se deve comer adoçante em vez de açúcar, isso é qlipha. Se matarmos animais porque “animais são feitos para serem mortos”, isso é qlipha. Mas e se matarmos um animal para demonstrar força? E se comermos o animal morto para nos alimentar? E se usarmos a energia da carne do animal morto para praticar o bem?
Quando comemos — enquanto comemos — é nisso que pensamos? É essa nossa intenção? Para a cabala, deveria ser.
Decidi então tentar explorar esse lado ruim… se é mesmo tão ruim assim.
Exercícios de limpeza
A cabala sugere que a “sujeira” está na parte da alma metaforicamente identificada como vestimenta. Uma vestimenta da alma? Mais ou menos. Seria possível sujar superficialmente alma e posteriormente limpá-la.
A limpeza da alma pode ser feita com rituais tão simples como lavar as mãos e os pés, tomar um banho de chuva, até rituais complexos que exigem leitura de Tehilim/Salmos específicos e corte de cabelo.
Eu escolhi utilizar os rituais da manhã para limpar para o dia. Ou seja, preciso fazer o exercício de visitar ou visualizar as qliphot bem cedo, antes de todas as preces— exceto mode ani lefanecha, que precisa ser a primeira da manhã mesmo assim. Eu não costumo percorrer toda a lista de preces matutinas do judaísmo (às vezes, duvido que os rabinos tenham tanto tempo pra isso). Mas o Shema é importante para conexão com o divino. Yishtabach me parece feito para limpeza. E o processo de colocar e tirar o tefilim ajuda resetar a mente para o dia. Havendo problemas maiores, posso sempre recorrer à mikve.
Estes exercícios devem cruzar a Contagem do Omer deste ano. Com sorte, sendo que eu já estou acostumado a fazer a Contagem, as energias ajudarão também a limpar estas visitas ao outro lado.
O objetivo prático será apenas visualizar as cascas— provavelmente não tão bem quanto consigo visualizar as esferas — e descrevê-las neste espaço. Sendo que é um caminho ainda não percorrido por mim, não posso garantir uma frequência uniforme (semanal, mensal que seja). Mas pretendo chegar ao fim da jornada.
Esfera do dia: Lilith— fragmento, pedra seca, infértil. Tempestade de vento. Chovia vento.
As árvores da floresta eram jovens demais. Jovens demais para servirem de alimento. Jovens para serem frutíferas, mas davam frutos. Frutos pequenos e coloridos. A entrada era um buraco no chão. Raso. Uma pessoa poderia entrar facilmente, mas o buraco em si estava logo abaixo das plantas da superfície. Era possível ver as raízes penduradas no teto do buraco. As raízes estavam firmes e fortes, buscavam alimento que não estava ali.
Como alguém que estuda a linguagem, a escolha do nome Lilith me incomoda. Não consigo ver o que a pessoa que escolheu esse nome para a primeira qliphot pensou. Não há nada demais em Lilith, senão o desconhecido. Eu, particularmente, usaria o nome צוֹאָה רוֹתֵחַת, Tsoah Rothachath. Há um aspecto de expurgo, extrusão; algo alquímico até nessa qliphot.
Também vejo certa ligação com árvores enquanto comunidade. Uma comunidade desordenada e livre. E pássaros, como a própria desordem que vive nessas árvores. Mas vistas por baixo. São sombras desses pássaros e sombras dessas árvores, como se eu quase as conhecesse. Ou antes, como se eu as observasse pela primeira vez a cada vez que as observo. São sempre novas, e a imagem delas não se mantém.
No meio da projeção, lembro que comecei a escrever o ritual que me traria aqui ao mesmo tempo em que escrevi o “Sacrifícios à Lua no Judaísmo“. Agora vejo a conexão. Há pegadas aqui que me indicam que dezenas ou centenas de pessoas já cruzaram esse mesmo caminho e tiveram essas mesmas ideias.
Não sei se esta qlipha ou este lugar específico é assim espelhado. Mas tudo me leva à ideia de espelho. Um espelho escuro que reflete a luz das coisas, mas não a imagem das coisas (se faz sentido).
Parecem ser formas associadas a este lugar: a raiz que se espalha pelo ar, a sombra dos pássaros, a luz sem forma, a lua invisível. Escolho como meu símbolo para acessar estas sensações uma circunferência vermelha. Nada se mexe, exceto o ar. Não o ar, mas a secura do ar. O lugar é quente, e o ar é seco. Seria como se chovesse o tempo todo, mas uma chuva quente e seca. Algo que rouba a água ou que molha seco. Já senti esse calor antes, em exercícios para descer aos mundo inferiores. Fico na dúvida se estou indo para um lugar novo ou só revisitando lugares conhecidos de outras projeções. Inanna manda lembranças, mas sem tantas joias.
A sensação é muito distante de mim. Não consigo associar histórias da minha vida às emoções. Seria o método ideal de encontrar um significado para esta experiência. Decido que é hora de voltar. Ao subir, repito “deixei toda a qlipha para trás“. Para ter certeza, imagino uma pedra fechando a entrada da caverna (não era um buraco?).
