Um Nome para o Universo

Nomes possuem poder, e inúmeras histórias de todas as épocas nos lembram disto; desde contos folclóricos onde pronunciar o nome verdadeiro de um leprechaun detém suas artimanhas, até livros de fantasia onde certos nomes evocam poderes mágicos. Os magistas estão sempre buscando compreender o macrocosmo ao seu redor – aquela somatória de tudo o que existe, que também se remete a onde tudo se originou. Isto não necessariamente possui um nome, porém nós o demos vários; e hoje, discutiremos de que forma o nome que utilizamos para o macro cria nossa relação com ele.

Imagem destacada: capa de “O Nome do Vento” por Marc Simonetti, mais uma história sobre o poder dos nomes

Quando nomeamos o macrocosmo, estamos não apenas estabelecendo a forma que iremos dialogar com ele como também como nós exerceremos poder sobre ele. A magia é um exercício de mudanças através da Vontade, e é canalizada por meio de diversas formas de linguagem; cada ponto que adicionamos modifica a forma que nossa Mente elabora como a manifestação acontecerá. A reflexão de como os nomes que usamos estão intervindo em nosso entendimento e interação nos leva a compreender melhor não apenas o externo, como também nosso microcosmo interno.

Como você se chama?
Como você se chama?

Muitas linhas do hermetismo estão voltadas para o “Todo”, que também é “Um”. Tudo veio do “Todo”, e por isso tudo ao “Todo” retornará em um movimento convergente. Este nome carrega uma noção de que há algo acima de nós, algo para onde devemos olhar além e nos integrar. Ao adotar o “Todo”, você assume que todas as formas que possuímos são apenas superficiais ou ilusórias e que é possível traçar algum tipo de ligação entre todas as coisas, que as aproximam mais do seu essencial. É uma opção favorável àqueles que buscam dissipar seu Ego, porém recomendo tomar cuidado para não cair em um universalismo excessivo.

Em outras, especialmente as do Caminho da Mão Esquerda, assumimos que ao tentar abraçar tudo acabamos com o “Nada”. Antes que qualquer coisa venha a existir, é preciso haver um “Nada”; e se você dissipar a si mesmo, acabará como “Nada”. É preciso se atentar que muitas linhas do LHP assumem o Ego não como algo a ser dissolvido, mas como uma parcela indivisível do ser que pode ser deificada – nesse caso, olhar para o “Nada” o permite ver um grande potencial criativo, onde qualquer coisa pode ser feita. É importante reforçar para não confundir este termo com “Vazio”, que aparece frequentemente em textos do LHP e se refere ao imanifestado – um tema que divergiria da discussão atual.

Eu particularmente, influenciado pelo paganismo, opto pelo nome “Natureza”. Desta forma, não lido com algo que está “além” ou para onde devo retornar – mas com um contexto onde tudo já está inserido e submetido. Tudo vem e está na “Natureza”, e portanto influenciado pelas leis naturais; até mesmo os deuses estão sujeitos a elas. Dentro de um sistema onde a observação cíclica é importante, se lida com energia telúrica e se observa um Destino inexorável, nomear o macro como “Natureza” permite aceitar melhor o mundo ao seu redor e sincronizar a si mesmo com seus movimentos.

Estas são algumas das possibilidades que possuímos para nomearmos esse espectro macro de onde tudo se origina; Peter Carroll, por exemplo, propõe em seu Liber Null o termo “Caos” por julgá-lo “virtualmente insignificante”. Sigam explorando e questionando de que forma um termo escolhido impacta na sua visão e interação com o objeto. Caso pratiquem as idéias do Carroll, você nem ao menos precisa ficar sempre com o mesmo – pode experimentar uma mudança de paradigma, e sentir na pele o quanto cada visão de mundo difere uma da outra!

-Ravn

 

Para pontos de vista em torno do “Vazio”, confira:

Uma análise do “Ginnungagap” nórdico

Exú e o Vazio

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1 comentário

  1. Esse texto foi incrível para mim. Passei pelas religiões universalistas e pelo LHP, e lidei com os conceitos de “o Todo” e “o Nada” na pele, na vivência. Tive algumas crises no percurso, e esses “nomes” funcionaram por um tempo, mas não foram o suficiente. Agora que estou seguindo o antigo caminho proporcionado pelo reconstrucionismo da Ásatrú e do paganismo nórdico, acessar essa nova forma de nomear o macro como “Natureza” é libertador! Hahaha. Obrigado pelo texto. Aliás, estou adorando ler seus textos, já que eles fazem um paralelo com outros assuntos do meu interesse e vivência pessoal, como LHP e magia. :))

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