Durante o último mês do calendário judaico, tocamos o shofar. O shofar é um instrumento de sopro, feito de chifre de carneiro. Pode ser de diversos formatos e tamanhos. A maioria das pessoas crê que o shofar é algum tipo de fetiche, objeto mágico capaz de dar poder a quem o segura. Não deixa de ser verdade. Mas, dentro do judaísmo, o shofar tem um significado mais forte e mais mundano.
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Dizem que o povoado do pequeno Yehuda sofria com ataques de pessoas que não queriam os judeus por lá. Durante a noite, agressores de cidades vizinhas chegavam a cavalo e ateavam fogo em alguma casa da aldeia. Os moradores acordavam de madrugada assustados e nada podiam fazer a não ser ver sua casa ser consumida pela chama.
O pequeno Yehuda rezava junto com seus colegas da shul para que D’us interviesse a favor do povoado.
Ao se aproximar do novo ano, um rabino chegou de passagem no povoado, indo em direção a sua cidade natal para as comemorações de Rosh Hashanah e para Yom Kipur. Carregava consigo um shofar. Yehuda, apesar de muito jovem, foi o primeiro a receber o rabino rabino visitante. Queria pedir-lhe conselhos, pois talvez soubesse de alguma forma como D’us poderia ajudar.
— Nós tivemos esse problema há alguns anos — disse o rabino — mas sempre que ateavam fogo em alguma casa, tocávamos o shofar, e a casa logo era salva. Tome, eu empresto o meu por esta noite.
O pequeno Yehuda ficou muito feliz. Obviamente não dormiu. Ficou em vigília esperando pelos criminosos que viriam queimar mais uma casa.
Na madrugada, Yehuda ouviu galope de cavalos em alta velocidade. Correu para aquele lado da cidade. E viu um dos odiosos agressores jogar tochas sobre o telhado de uma casa.
O menino apontou o shofar para a casa em chamas e soprou o mais forte que pode. Inspirou novamente e soprou outra vez. E outra vez. Lacrimejava pela fumaça ou pelo esforça, até que não conseguiu soprar mais. Sentou-se no chão incrédulo: o shofar não funcionava.
— Muito bem, pequeno Yehuda! Você soprou o shofar muito bem.
— Mas, rebe, eu não consegui apagar o fogo. O shofar não fez efeito nenhum.
O rabino deleitou-se em uma longa gargalhada.
— Não, pequeno Yehuda, o shofar não serve para apagar o fogo. O shofar serve para acordar os vizinhos. São eles que vão apagar o fogo.
Shbaa.