Demian: A História da Juventude de Emil Sinclair é um importante romance do século XX, escrito pelo alemão Hermann Hesse (vencedor de um Nobel de Literatura). Repleto de simbolismos usados por diversas linhas magísticas muito bem retratados, a obra abrirá a mente daqueles começando sua jornada e renovará o ponto de vista daqueles já avançados.
“A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem de destruir um mundo. A ave voa para Deus. E o deus se chama Abraxas”
Em sua publicação original em 1919, o autor usava o pseudônimo “Emil Sinclair” – o nome do narrador da história, que nos conta sobre seu amadurecimento em um período da infância até o início da vida adulta. Quando criança, enxergava uma distinção clara entre “certo e errado” no mundo; porém, isto começa a ser quebrando quando Emil conhece Max Demian, um garoto de uma classe mais avançada de sua escola, que o apresenta uma nova versão da lenda de Caim. De acordo com Demian, Caim pode nunca ter cometido um crime – na verdade, era uma pessoa que seguia sua própria visão de mundo ao invés de aceitar aquela imposta pela sociedade, e por isso foi tomado como “perigoso”; e mesmo hoje, seria possível identificar em certas pessoas o “sinal de Caim”.
A dualidade – e principalmente, em que ponto os opostos se cruzam – é uma das principais discussões do livro. Em sua infância, Sinclair nos descreve o “mundo do dia”, guiado por uma moral tradicional e girando em torno de seus pais, e o “mundo da noite” onde crimes e coisas proibidas aconteceriam; porém, a “noite” guarda mistérios intrigantes e certas coisas renegadas à este aspecto não o parecem exatamente ruins – e ambos os pólos parecem muito mais próximos do que se imagina. Um dos simbolismos mais recorrentes está em Abraxas, uma entidade mitológica que seria ao mesmo tempo um anjo e um demônio que é tomada pelos personagens como uma divindade capaz que englobar todo o espectro da Natureza.
O livro também apresenta uma visão aprofundada sobre o conceito de “higher self” (ou “Sagrado Anjo Guardião”), presente em diversas passagens. É possível traçar paralelos de diversas passagens com o conceito, principalmente aquelas que giram em torno de Demian. O encontro com ele é o gatilho para Sinclair começar a ter consciência de si mesmo, porém em diversos momentos ele age mais como um provocador que um mentor. Momentos onde ambos estão distantes e Sinclair se encontra perdido em seu caminho, procurando algum meio de contatá-lo, lembram muitos ensinamentos repassados em graus iniciáticos.
Também é muito forte na obra a influência da psicologia jungiana, resultando do contato de Hesse com alunos de Jung. Análises obtidas através dela de passagens de sua juventude estruturaram boa parte dela. Muitos arquétipos e simbolismos usados são característicos desta vertente, sendo um dos principais o próprio deus Abraxas. O próprio autor considerava a história a descrição de uma jornada de um estado inconsciente para a consciência de acordo com o ponto de vista de Jung sobre individualização.
Apesar de toda a profundidade e do período em que foi originalmente publicado, Demian é um livro curto e de fácil leitura. A sensibilidade de Hesse (que posteriormente se consolidaria como um autor focado em histórias sobre autoconhecimento) em retratar conceitos tão repetidos nas muitas vias magísticas ocidentais o torna muito proveitoso para qualquer um que decida percorre-las, inclusive sendo possível encontrar críticas a certas atitudes comuns entre seus buscadores em algumas passagens. E com certeza, os leitores deste blog acabarão identificando em si mesmos o sinal de Caim e se sentirão motivados a destruir um mundo.
Imagem destacada: retirada do vídeo “Begin”, parte do projeto “WINGS” pela banda BTS, com diversos vídeos curtos e clips musicais repletos de referências pesadas a Demian. Para aqueles que leram o livro, com certeza vale a pena conhecer: https://youtu.be/yR73I0z5ms0
1 comentário
Ta aí, um livro que só tinha visto pela capa, mas nunca tive a curiosidade de ler a sinopse. Agora mudei de opinião.