O judaísmo traz duas preces especiais para quando temos alguém especial que faleceu e que ainda faz falta. O Yizkor e o Kadish dos Enlutados. São preces que demandam um minyiam: 10 justos. Por um lado, a cabala diz que são os dez justos que D’us pediu a Jó; por outro, os enlutados não devem se sentir solitários.
Yizkor
Yizkor significa “lembrança”, mais precisamente “que ele se lembre”. É uma tradição dos judeus ashkenazim. É recitado quatro vezes no ano (em Yom Kipur, no oitavo dia de Sukot, no oitavo dia de Pessach e no segundo dia de Shavuot) por aqueles que tiverem um parente próximo falecido há pouco tempo.
“Yizkor Elohim nishmah abah mori / (dizer o nome hebraico do falecido e da mãe do falecido) / she-holach l’olomo, ba-avur / sheb’li neder etayin tzdokoh ba-ado, / bischar zeh t’hay nafsho tzruroh / bitzror hachayim, im nishmas / avraham, yitzchak v’yaakov, sarah / rivkah, rachel v’leah, vim shor / tzadikim v’tzidkoniyos sheb’gan / eden, v’nomar: Amem.”
“Possa D’us lembrar a alma de meu pai, meu professor (nome e nome da mãe) que foi para Seu mundo, porque eu darei tzedacá em seu nome. E por esse mérito, possa sua alma se unir às de Abraão, Isaac e Jacó, Sarah, Rebeca, Raquel e Leah e às dos outros justos homens e mulheres que estão no Gan Eden. Dizemos: Amém.”
A referência a “meu pai, meu professor” (Abah Mori), pode ser trocada por “minha mãe, minha professora” (Immi Morosi), filho (beni), irmão (ochi), irmã (achosi), tio (dodi) etc. Aos conspiradores, vale notar que “esposa” é “ishti” e marido é “baal”.
A segunda parte da prece não fala mais no falecido, mas fala na bondade de D’us.
Kadish
Kadish Yatom (Kadish dos Enlutados) é uma versão especial da prece diária de elevação do nome de D’us.
“Yit’gadal v’yit’kadash sh’mei raba
b’al’ma di v’ra khir’utei / v’yam’likh mal’khutei b’chayeikhon uv’yomeikhon / uv’chayei d’khol beit yis’ra’eil
ba’agala uviz’man kariv v’im’ru: / Amein. Y’hei sh’mei raba m’varakh l’alam ul’al’mei al’maya / Yit’barakh v’yish’tabach v’yit’pa’ar v’yit’romam v’yit’nasei / v’yit’hadar v’yit’aleh v’yit’halal sh’mei d’kud’sha / B’rikh hu. / l’eila min kol bir’khata v’shirata / toosh’b’chatah v’nechematah, da’ameeran b’al’mah, v’eemru: / Amein / Y’hei sh’lama raba min sh’maya / v’chayim aleinu v’al kol yis’ra’eil v’im’ru / Amein / Oseh shalom bim’romav hu ya’aseh shalom
aleinu v’al kol Yis’ra’eil v’im’ru
/ Amein“
Assim como o Yizkor oferece tzedacá em nome do falecido, os cabalistas organizaram essa versão do Kadish acreditando que ela ajuda o falecido a se elevar ao mundo superior. Na prática é um “truque”, uma vez que “elevar o nome de D’us” é considerada uma das maiores mitzvot (mandamentos) que um judeu pode cumprir.
Uma parte de si
O judaísmo não parece se importar muito com a morte em si. Há um período de luto regulamentar, sinais externos obrigatórios (cobrir espelhos, rasgar a roupa). Mas entende-se que o falecido está bem. É dos vivos que devemos cuidar. As bênçãos e preces pedem em nome dos mortos, mas as bem-aventuranças, a bondade, é executada e obtida pelos vivos.
A tradição judaica em si prega que os mortos nos visitam a cada grande festa, em nossos momentos de alegria, em todos os ritos de passagem: em nascimentos, em casamentos, no ano novo…
Uma parte de nós sempre se vai junto, e, independente da fé, é preciso resgatá-la. Afinal, no fim das contas: Quando um pai morre, morre a parte de nós que é filho? Quando um cônjuge morre, morre a parte que amava essa pessoa? O que abah mori e immi morosi nos ensinou persiste vivo. E a vida quer alegria.
Shbaa.
2 Comentários
“Mas não entende-se que o falecido está bem. ”
Essa frase parece não fazer sentido , dentro do texto.
Não seria “Mas entende-se que o falecido está bem.”?
Verdade, José. Corrigi a frase. Obrigado.