Não é segredo nenhum que o Caminho do Dragão possui suas divindades, a
saber: O Senhor da Escuridão, O Dragão, a Musa e o Daemon. Cada um deles está
ligado a um aspecto micro e macro, são divindades interiores bem como aspectos
exteriores do adepto do caminho. Para pessoas com um passado cristão é
complicado entender que existem divindades que não estão nem aí para sua
crença, ou para seus louvores, elas não precisam e não querem adoração. Mais
difícil ainda é entender que essas divindades são símbolos, representam algo
maior, que provavelmente nenhum de nós vai entender completamente, e que elas
estão no interior dos humanos e também fora deles. Assim como a mínima
partícula contém todo o universo.
O que está em cima é como o que está
em baixo.
Mesmo não entendendo por completo essas divindades, devemos nos dedicar
ao exercício de sua gnose, para aos poucos atingirmos a compreensão e
assimilarmos suas características cósmicas em nossa psique. O primeiro passo é
a compreensão intelectual.
O Senhor da Escuridão.
Os seres humanos não são nada além de animais, seres que evoluíram para
uma consciência mais aprimorada, uma capacidade analítica que deve ser
treinada. Sim ela decai com o tempo e se não for buscada não funciona mais.
Para atingirmos essa capacidade sacrifícios foram e são feitos, a luz da razão
possui um preço. Qual será o preço de todo o resto, de tudo que a luz da razão
não toca, de não precisar mais dessa razão?
Segundo a mitologia fora Pometeus que deu a luz do fogo aos bestiais
seres humanos, iniciando a capacidade de criar, construir, conquistar e
destruir. Lúcifer também recebe os mesmos louros. E ambos pagaram um preço alto
por isso.
Mas não é a luz que interessa, e sim a escuridão que ela não toca. A
capacidade de entender a si mesmo e consequentemente o todo sem um
discernimento de certo ou errado, isto ou aquilo, ou de separação. Uma
consciência absoluta, realmente cósmica. Na minha opinião o termo escuridão é
errado, ele deveria ser trocado por VAZIO.
O universo em si é um imenso vazio, mesmo quando não percebemos, se
tirarmos todo o espaço vazio da Terra ela ficará do tamanho de uma bola de
tênis. O Vazio existe em tudo e em todos, conecta toda existência e o que está
fora da existência, é o comum entre os deuses, demônios, heróis e monstros. E
por estar em toda a parte ele possui o potencial para tudo, e do meu vazio eu
alcanço o vazio do outro lado da galáxia.
O Senhor da Escuridão é quem habita e domina este vazio, capaz de criar dele,
andar por ele, viver nele. Ele cria, controla e manipula. Por tamanho poder e
conhecimento esta divindade é um pária, um Não-Deus capaz de vencer e testar
todos os outros não se importando com os resultados, pois sabe que irá
remanifestar em toda sua glória e poder.
Alguns exemplos incompletos de várias mitologias: Exu, Odin/Loki,
Lúcifer, Prometeus, Seth, Shiva.
O Senhor da Escuridão está ligado ao elemento Terra, sendo a manifestação,
o poder de tirar algo do Vazio para a existência. Lembrando que dentro dessa
visão não há diferença entre o corpo e o espírito, tudo é sagrado.
O DRAGÃO.
Enquanto os caminhos da luz rejeitam sua essência bestial e muitas das
vezes maléfica, o draconinano entende que isso faz parte de seu Ser, e que
colocar a sujeira debaixo do tapete não adianta nada, em algum momento essa
sujeira vai sair e tomar toda a casa.
Em diversas mitologias há a figura do Dragão, uma besta indomável, que
nada, voa, anda e se não cospe foto é imune a ele. Essa besta representa os
quatro elementos fora de controle. Não é incomum o Dragão ser morto por um
herói que com esse feito ganha poderes sobrenaturais, e no mais açucarado dos
casos casa com a princesa.
Nós sabemos que o Dragão não pode ser morto, ele vive dentro do herói
que o assassinou, o mesmo sangue que deu o poder pode ser um veneno cruel, que
mata lentamente, corrompe cada molécula do Ser. Estar na frente do Dragão sem
uma determinação inabalável, ir apenas por aventura, despreparado, é morte na
certa.
Nas mitologias a besta também guarda um tesouro incalculável, montanhas
de ouro e pedras preciosas, armas e conhecimentos capazes de tornar o herói e
seu reino invencíveis.
Como foi dito o Dragão representa nossa besta interior, o mar de
monstros e demônios que carregamos dentro de cada um de nós, essa besta em
homens é essencialmente fêmea, e provavelmente em mulheres é essencialmente
macho. O primeiro contato com essa besta que sintetiza todos os monstros de nosso
Ser é aterrorizante, mas é necessário. Vivemos em um mundo onde nossos supostos
líderes são dominados por suas bestas, devoram tudo sem critério algum,
espalham caos e destruição. O draconiano rejeita e tem asco desses seres, pois
não conhecem o Senhor da Escuridão, e são incapazes de identificar e vencer sua
besta, tornando-se uno com ela, caminhando para o domínio de suas emoções e
pensamentos.
O Dragão é um ser ardiloso, inteligente e tortuoso, que fará uso das
mais diversas armadilhas para não ser percebido, enfrentado e vencido. Para o adepto ele é o inconsciente e seus
monstros e demônios. Traumas, memórias, vivências, dores, capacidades e
incapacidades. São as emoções que surgem do nada e tomam conta, possuem o seu
corpo e fazem com que faça coisas que se arrependa depois. Ele não habita as
águas do inconsciente ele é as águas do inconsciente, o lado terrível dos
deuses.
Está relacionado ao elemento água e as emoções que por muitas vezes são
incontroláveis, mas que quando vencidas dão ao ser humano um poder incrível.
Nas diversas mitologias ele pode ser: A Serpente Dan, Fafnir, Leviathan,
Tiamat.
Mais difícil de entender, um bônus para quem quiser: Yemojo, Olokun.
A MUSA.
Esse é o termo mais comum em algumas correntes, porém é melhor dar o
nome correto: BABALON. O problema é que esse nome está na boca do povo com suas
representações bregas e feita para punheteiros. Babalon é o fogo do desejo
puro, ela inspira, atrai e excita independente de sexo, o que ela desperta é
muito mais que um desejo carnal, vai muito além. Ela incita ao desejo, a união
com ela, uma união completa, de todo o Ser. Se não for se entregar por completo
vai acabar louco buscando um ídolo que não existe.
Cada um irá ver a Rainha do Desejo de uma forma diferente, claro que a
princípio ela vai apresentar-se como uma projeção de seus desejos sexuais,
porém, ela não é somente isso. Ela inspira a busca pelo maior, pelo mais, pelo
melhor. O desejo por fazer, criar, procriar, de sair do não manifesto para o
manifesto e depois voltar. O desejo por criar, fazer a arte, mudar, sentir e
viver em plenitude.
Não há lugar para machistas ou para o patriarcado, Ela é a Senhora, a
Rainha, àquela que coloca a humanidade no caminho certo, o desejo do coração
puro. Vontade e determinação inabalável,
a dedicação ilibada. O maior erro foi reconhecer seu título de prostituta e
esquecer sua essência de Santa. Uma sociedade corrompida só poder vê-la como
vendida, puta e suja. Mas os que possuem o espírito aberto já sabem que ela é a
Santíssima, capaz de gerar, que não faz a distinção entre este e aquele.
Quem não for capaz de ter um coração puro e buscar seu desejo mais
ardente, não terá nunca seu amor, e ficará pagando por algo que não é seu. Das
quatro divindades ela é a mais perigosa, pois coloca o adepto perdido em um
labirinto de desejos, enganos e perdições, basta ver nossa sociedade sexista
para entender o que falo.
A Santa é muitas em uma só, é perfeita só por existir e inspira o mais
inepto a tornar-se herói, ela se entrega para os que se entregam, revela seus
segredos mais profundos e lança seus amores para a vitória perfeita. Ela é a
rainha das feiticeiras, capaz de fazer tudo com sua magia natural.
Está relacionada ao elemento fogo, e pode ser incontrolável como ele.
Algumas relações mitológicas: Oxum, Oyá, Agbá, Freja, Inanna, Isis.
O DAEMON.
Recebeu muitos nomes e provavelmente o mais famoso é Sagrado Anjo
Guardião. Um título brega e um pouco fora do contexto draconiano. O Daemon é
essência que habita o vazio, você mesmo feito perfeito, seu espírito heroico,
invencível e imortal, capaz dos mais grandiosos feitos. Claro que esses feitos
possuem uma direção, que é comumente chamada de Verdadeira Vontade, ou Desejo
Puro. Provavelmente o maior erro do esoterismo ocidental é a busca por uma
Verdadeira Vontade inabalável, pura e salvadora, quer irá tirar-lhe da vida que
você se encontra para algo realmente mágico e miraculoso. Lembra que não há
diferença entre matéria espírito? O Desejo Puro é aquilo que vai te dar forças
para sair da merda que você se encontra, a saída do labirinto, custe o que
custar, demore o tempo que for.
Somente pelo Daemon podemos entender a Trindade Draconiana, que foi
descrita acima. Ele sintetiza as três divindades, é puro potencial, porém está
afastado de seu cliente, causando pouca influência. A aproximação é lenta, deve
ser levada a sério, e não pode ser negligenciada, qualquer meio deve ser usado
para a Grande Obra. Com o tempo e uma fanática dedicação a aproximação se
inicia e a influência aumenta.
A melhor explicação que encontro para o Daemon é o Ori, aquele que permanece,
a cabeça sagrada da Religião Africana, ou de matriz africada. O Ori continua,
independente da morte do corpo físico o Ori prosegue sua existência, levando
consigo as experiências de todas a suas outras manifestações, porém esse poder
está trancado, podendo ser acessado pelos rituais e sacrifícios corretos.
O Daemon é o bom conselheiro, o protetor perfeito e é você mesmo no
porvir.
Está relacionado ao elemento ar.
Mitologicamente pode ser comparado a qualquer herói atingindo seu máximo
potencial.
Essa é uma explicação rápida e
sucinta sobre as divindades draconianas, muito pode ser alcançado estudando as
divindades citadas. Lembrar que o Caminho do Dragão se adapta a qualquer
filosofia que busque a evolução do ser humano ao seu potencial máximo, ao
pós-humano, não negando os defeitos e males que temos agora em nossa
existência.
O Dragão vive!
Akin.