Todos que já pisaram em uma casa de culto de matriz africana presenciaram o uso de alguns oráculos. Devido ao sincretismo e as particularidades de cada casa o uso de oráculos pode variar, os mais diversos tipos de oráculos são utilizados, o que é normal pois a diversidade e a expansão são características fundamentais do sistema oriundo de terras africanas.
O objetivo desse texto é tratar dos oráculos mais utilizados, e mais famosos, dentro dos terreiros: os búzios, e dar uma visão sobre o “jogo de ossos” que tem crescido em uso, principalmente em casas de Quimbanda. Outros textos futuros irão explorar mais a fundo o sistema oracular de Orumilá, por enquanto teremos uma visão geral dos sistemas.
O IFÁ.

Ifá é um complexo e tradicional sistema oracular trazido pelos Yorubás e utilizado em diversas terras americanas. Cada família de praticantes do culto irá ter uma interpretação e um método, porém a tradição diz que o sistema lê os Odus através das sementes de dendê (IKIN) ou de suas cascas cortada (Opelê). Cada combinação de caídas irá trazer um Odu, um caminho, e cada um desses signos geomânticos possui uma série de mitos, onde um deles irá conter o problema e a solução das questões perguntadas.
Os mitos, são muito importantes, pois toda história já foi contada, não há nada de novo, então o Babalawô irá buscar através de seu conhecimento dos mitos a solução do problema daquele que busca seus serviços. Os ebós e rituais não surgem do nada, não são uma invenção, são fundamentados nos mitos formadores do culto que são, para os fiéis, os mitos formadores de toda e qualquer situação que ocorra na humanidade.
Existem 16 Odus, que sempre caem em dupla, um complementando o outro, assim temos 256 quedas possíveis, se considerarmos somente os Odus de dois em dois. Os Odus possuem em si uma hierarquia, dos mais novos aos mais velhos, e uma influência, cada um possui uma parte construtiva e outra destrutiva, comumente chamado de positivo e negativo.
Então, quando o oráculo é consultado, uma combinação de signos geomânticos chamados de Odus, irá trazer uma série de mitos, assim encontra-se a solução, normalmente por uma ritualística. Por isso demora-se anos para tornar-se um Babalawô, cerca de 15 anos, pois deve aprender muito além das quedas e dos mitos.
Deixo claro que resumi muito do que é o Ifá. Existem diferentes tradições dependendo da família e do local de onde aprende-se.
OS BÚZIOS.
O sistema mais comum é o erindilogun, ou sistema Bamboxê. Constitui-se de 16 búzios e mais alguns adereços que são lançados sobre uma peneira ou tábua, cada queda irá representar um dos 16 Odus, e a combinação das quedas irá trazer as respostas esperadas. A ordem dos Odus é modificada para que possa se adequar às probabilidades de queda de 16 búzios, por exemplo, em Ifá Ej-iOgbê é o primeiro Odu, e nos búzios é o oitavo.
O mito irá dizer que Orumilá ensinou Oxum a jogar búzios, para que ela solucionasse os casos que Ele não pudesse resolver por estar sempre muito ocupado e viajando. Historicamente, no Brasil, quem trouxe o sistema foi Bamboxê Obitikô, sacerdote de Xangô possuidor de fortes ligações com Ilê Axé Iyá Nassô Oká, conhecido popularmente Casa Branca.
Porém existem diferenças, dependendo casa e da tradição seguida, existem jogos de 12 búzios (Santeria), 9 búzios (algumas casas de Quimbanda e Umbanda), 8 búzios, 5 búzios e 4 búzios. E nem todos utilizam-se do mesmo sistema de Odus. Com 4 búzios, por exemplo, pode-se ler os Odus, e também pode-se obter as respostas sim, não, talvez, positivo e negativo.
O mais comum em casas que trabalhem com Orixás é o sistema de 16 búzios, já em casas de Quimbanda é comum o uso de 4 búzios. Mas não é uma regra.
ORÁCULO DE OSSOS.
Atualmente muitas casas de Quimbanda estão sofrendo influências de práticas de vertentes do Hoodoo, porém o uso de fetiches oraculares não é novidade, moedas, correntinhas, cruzes, chaves, anéis e ossos são comuns em diversos sistemas. Como o Hoodoo tornou seus sistemas (sim existem mais de um) mais famosos não é de se estranhar que muitos praticantes de Quimbanda estejam adotando sistemas como o Sangoma.
Cada olhador de ossos irá ter seu sistema próprio de jogo, onde irá incorporar diversos elementos que façam sentido para sua leitura, podendo ter ossos, chaves, búzios, conchas, anéis ou qualquer outro elemento que faça sentido para o universo pessoal da pessoa, o mais interessante do sistema é que não há um padrão, o que abre muitas possibilidades para leituras e exige experiência e vivência do jogador.
CONCLUINDO.
Cultos Afros significam diversidade e acolhimento, não há um padrão rígido, não existe um dogma, existem práticas consagradas pelo seu sucesso. É uma prática viva, que cresce a cada instante, muda, adapta-se, renova-se, nunca sendo estática. O dinamismo reflete-se nos seus oráculos, que permitem adaptações, acréscimos e decréscimos. Assim como os cultos, os oráculos são vivos.