“Passei setenta anos sentado aos pés da Jurema.
Não farei bem, a quem faz o mal; Se eu me zangar taco fogo no rochedo, meu cachimbo tem segredo! Agora vou te queimar”– cantiga de ritual de Jurema.
O Xamã é curador, mas também é um habilidoso guerreiro espiritual. Soprando sua fumaça, junto ao espírito sagrado de seu cachimbo ele vê o corpo espiritual do paciente e observa os males que o cercam: pode ser uma doença, um espirito que está o acompanhando, ou uma maldição. Nesta hora, o xamã que bafora sua fumaça no paciente trava uma luta para libertá-lo e assim melhorar sua condição.
Existem inúmeras formas de trazer a cura que vem de Wakan Tanka, o Grande Espírito. Não é o Xamã que cura, e sim, sua batalha que caso seja vencida, destruirá as energias negativas que aflingem o paciente.
Ao fechar os olhos, o Xamã entra em transe – seu espírito parte em uma jornada no plano espiritual, enquanto sua mão agita o maracá e sua boca sopra a fumaça. Caçando a origem do problema do paciente, com a ajuda do espírito das formigas ele encontra uma árvore seca, na qual um desafeto escreveu o nome do paciente e ali jogou um feitiço. Estando em forma de espírito no mundo imaterial, o Xamã conversa com o espírito da antiga árvore, que diz onde está localizada no mundo físico.
O Xamã abre os olhos e se abaixa, sussurrando uma oração à mãe Terra, em agradecimento ao espírito-animal das formigas, que foram seus guias nessa jornada. Ele então conversa com o paciente sobre a árvore, e ambos vão até o lugar e fazem a ritualística necessária. Um cão selvagem se revela, e avança sobre o Xamã, mordendo-lhe a perna. O Xamã evoca o canto de poder em seu maracá, olha ferozmente para o animal, ao tempo que uma cobra aparece e luta contra o cão. O cão ferido some nas sombras da mata. Era na verdade, um espírito que tentava sabotá-los, o animal espiritual de um outro feiticeiro. A cobra, é um dos aliados do Xamã, que venceu a luta de espíritos.
Momentos depois, e da ritualística feita aos pés da árvore, o paciente começa a melhorar.
O Paciente agradecido, recuperou sua saúde. O Xamã, sabendo que a batalha nunca tem fim, agradece aos espíritos pela vitória que trouxe a melhora de seu paciente.
Mas ainda não acabou.
Ainda há um feiticeiro rondando por aí, em seu cão selvagem. A mata escura é um campo de batalha.
E quem é forte para usar seu poder pessoal sem ser dominado pela vaidade, é vencedor.
Este relato é parte de uma experiência própria, fato que ocorreu em uma noite de lua branca. Eu estava cachimbando aos pés da minha roseira, e então me lembrei deste acontecido, e compartilho aqui.
Haux!
2 Comentários
Gratidão por compartilhar. Precisa de mais conteúdo de xamanismo para deixar o site ainda melhor.
Que viagem é essa! espero ler mais relatos/histórias assim.
Você dá cursos ou vivências xamânicas? se sim, que cidade?
Texto, um de meus favoritos do site.
Precisa de mais conteudo assim! Gratidão!