Daemon, SAG e outros pedaços de consciência

Vou escrever um pouco sobre as minhas experiências sobre os fragmentos do Self, que continuo experimentando durante a minha jornada Draconiana. A idea desse texto breve, não é definir como o caminho deve ser percorrido, mas sim relatar a minha percepção de autoconhecimento.

Ainda lembro a noite calorenta de verão onde eu estava visitando minha mãe, que é evangélica, que em alguns momentos de abertura de mediunidade, eu estava tendo visões de horror. Como meu estado emocional nunca foi muito ativo, eu não me importava tanto com o que via, eram visões estranhas, como seres horrendos, sangue, muito sangue, sentia entidades se aproximando e a realidade parecia mais plástica do que o normal, um cenário digno de um filme de horror de baixo orçamento, como hellraiser e a hora do pesadelo.

Nesse dia eu tive a visita de 2 seres, que eu já tinha visto outras vezes. Eram parecido com o Alucard, do mangá Helsing. O primeiro apareceu vestido de preto, olhos vermelhos e aquela cara insana do anime. Não falava nada, apenas parecia querer ter sua presença notada. E como era notada! Quando ele estava “vindo”, estas visões abissais se intensificavam até que eu me acostumei a esperar a sua chegada.

Num desses dias, o Ravn me apareceu falando sobre um livro diferente, que mostrava algo que a gente não tava acostumado a ler. Lembro que eu não levei muita fé, na época não dava muita bola pra esse lado da moeda, além dos meus próprios guias de esquerda. Mas eu sempre senti afinidade com energias mais agressivas e menos “paz e amor” como costumam ser a maioria das coisas que envolvem espiritualidade.

Como um experimentador nato, eu nunca acredito em algo antes de experimentá-lo. Quando conheci a astrologia, eu fiz o mapa astral de mais de 20 pessoas que eu conheço bem a mais de 5 anos, conversando com elas sobre certos arquétipos e verificando a validade daquelas interpretações. Eu sempre fui um cara muito analítico, tenho facilidade pra entender as pessoas e como a mente delas funciona. Depois disso eu provei pra mim mesmo que astrologia tinha um fundamento sólido em si.

Outro dos experimentos que eu fiz na minha jornada foi a do tarot. Nunca fui muito atrás de prever o futuro, principalmente quando ele não mostrava cartas favoráveis aos meus objetivos, mas ele sempre esteve certo. Muitas pessoas que participaram das minhas jogadas sempre voltavam pra dizer que aconteceu aquilo que eu tinha previsto. Mais uma “ciência oculta” validade pra mim.

Foi numa destas jogadas que eu perguntei se eu deveria ler aquele livro, ainda lembro que o tarot disse mais ou menos que seria um caminho sem volta e que eu passaria por maus bocados a partir disso. O como todo bom magista, com cautela eu toquei o foda-se e fui ler o livro.

Quanto mais eu lia mais parece que coisas acordavam dentro de mim, eu li várias passagens em que descreviam exatamente algum fenômeno místico que eu tinha experienciado, confirmando pra mim que aquelas palavras estavam corretas. Lembro que terminei o livro em pouco menos de 2 dias. Continuei lendo outros livros do mesmo autor e aprendendo mais sobre aquele prisma que eu havia encontrado.

Alguns meses depois, eu ainda com dúvida de que aquele caminho seria o caminho pra mim. Depois de algumas trocas de recados com a minha falecida mãe de santo, ainda encarnada na época, eu comecei a acreditar mais em mim mesmo. Ela confirmou que eu tinha um axé pra trabalhar essas energias, que eu deveria ser cauteloso com os grandes, mas que eu iria me encontrar naquilo. A partir dali ela começou a me chamar de feiticeiro. Desse ponto em diante muito do que passei anteriormente começava a fazer sentido.

Nunca consegui achar uma casa de Umbanda em que eu me sentisse em casa. Apenas o terreiro com mais de 40 anos, firmado na força de Ogum Beira Mar, eu pude ser recebido como um filho, sem aquela castração que costuma acontecer em vários terreiros de macumba aqui da minha cidade. Você deve seguir a lei de um pai de santo, no lugar de ter as ferramentas para o seu desenvolvimento e o encontro com o seu próprio caminho?

Aquela máxima luciferiana “prefiro reinar no inferno do que servir na luz“, começou a fazer sentido na minha vida. Eu realmente não queria me adequar a regras em que eu não acreditava, quando eu tentava isso instaurava culpa sem sentido, que me corroía e me prendia por dentro. Resolvendo continuar minha caminhada sozinho, mesmo a distância do terreiro que me acolheu, eu me encontrei. Tive o aval da minha Yalorixá, que em vez de tentar me enquadrar naquilo que ela acreditava, apenas me incentivou a ir adiante e me encontrar.

Existem caminhos na luz, e existem caminhos nas trevas.

A diferença é que nas trevas, a luz é apenas a sua. Ela não aparecerá antes de encontrar a sua essência e vasculhar cada canto obscuro da sua alma, então vai achar aquela preciosa chama que brilha dentro de todos os seres que a encontraram.

Eu não gosto daquela visão de que as Qliphot são apenas excrementos da perfeição do criador. Eu não acredito em um criador, mas em vários. Eu acredito que tudo que existe é algum fragmento de nós mesmos, que precisa ser entendido como uma ferramenta, para poder ser usado na nossa evolução. Evolução essa, que tem inúmeras possibilidades e caminhos. Ninguém é mais evoluído que o outro, o único parâmetro evolutivo é consigo mesmo.

Dentro dessa linha de pensamento, eu me encontrei na senda Draconiana. A partir daí eu pude construir o meu caminho da forma como eu achava correto. Assim, pude aprender com meus próprios erros e começar a entender o porquê das coisas serem A ou B, aprender pela experiência e não pela crença de alguém que disse que aquilo deve ser assim. Acredito que o maior dos problemas do magistas hoje em dia, é tentar adequar a visão dos outros a sua crença. Eu já fui esse tipo de cara, hoje eu consigo apenas relatar algo sobre a minha experiência e deixar que cada um encontre a sua.

Quando eu leio um trecho da bíblia, eu acredito que aquele que realmente escreveu e experienciou aquilo, quando fala algo sobre o Senhor teu Deus, estava se referindo ao próprio SAG. Alguns chamam de daemon, meu nome favorito é Abraxas. Ele é um conceito, o mais adequado para a minha visão é o Eu além do Eu, aquilo que queremos nos tornar no futuro, o nosso Eu próximo da perfeição, ou daquilo que acreditamos ser perfeito.

Aqueles seres bizarros que eu via em visões do abismo, eram partes dele. Acredito que todos os textos sagrados que falam de alguma divindade, no fundo, o seu autor estava falando daquele Self que guiou os passos dele ali. Nisso ele promulgou a sua própria lei, numa perspectiva aeonica. O problema dessas religiões é que as pessoas querem seguir aquele caminho, em vez de apenas usar aquilo como uma ferramenta para achar o seu próprio.

Quando mais próximo você estiver de um self, mais avançado será o próximo fragmento que você irá experienciar. Atualmente, depois de vários processos de autoconhecimento, do descascar da cebola que compõe aquilo que chamamos de identidade, mais eu acredito que o que importa é a jornada, aquilo que nos leva de um ponto ao outro, para que um novo rumo apareça no horizonte.

Não faz mais diferença estar certo ou errado. Não tem mais sentido convencer outras pessoas daquele seu ponto de vista. Não tem porquê tomar iniciativa para mostrar e ensinar coisas pra pessoas que não chegaram no processo de aprendizagem.

Saber, ousar, querer e calar. 

Quanto mais você caminha, mais você entende que tanto faz. Que o mundo tem as razões dele para ser como é, afinal ele é feito de pessoas e estas pessoas em suas realidades é que dão forma aquilo que está além de nós. Você pode escolher querer transformar o mundo, você pode escolher ignorar o mundo e pensar em si mesmo.

O que você nunca poderá ignorar é a verdade que queima dentro de você, aquilo que apenas você, em seus estados de consciência terão acesso pleno. No fundo todos sabemos o que somos, o que queremos e o porquê queremos. Mas ser dono da própria vida é doloroso, principalmente porque o Universo não vai parar de te sabotar nas oportunidades que tiver, afinal, somos nós mesmos os canais de manifestação de glória e desgraça nesse plano e isso não impede que os outros ajudem e jogar mais lama em cima de nossos corpos cansados.

Mas uma coisa é certa, há uma luz no final de algum túnel, você só saberá quando chegar lá. Você poderá escolher fazer Nada. Você pode ignorar as coisas e continuar na vida do dia a dia, aceitando aquilo que o mundo nos entrega.

Quando eu vi a dimensão das intenções, Exu mirim me mostrou que nós temos exatamente aquilo que queremos. A maioria quer apenas fugir de si mesmo, criar mecanismos para continuar estático. É cruel dizer que somos responsáveis. Muitas doenças são fardos absurdamente pesados de se carregar. As vezes aquela depressão profunda, é um desequilíbrio bioquímico que pode ser controlado por remédios, pode ser melhorado com sessões de ayahuasca, santo daime, ou também dominado com sessões de respiração como o Método Wim Hof.

E as curas estão por aí, acessíveis a aqueles que conseguirem alcançá-las. Mas por que mesmo assim, muita gente parece não ouvir os recados, conseguir ver além da própria realidade inerte que criaram para si mesmos? Não sei.

Todos queremos ser ricos e prósperos, mas quase nenhum quer começar o dia as 4:30 da manhã, ou aprender algo novo. É mais fácil esperar o messias salvador, o próximo presidente de promessas vazias, aquela vida que não quer ser vivida, aquela peça de teatro escrita pelo outro. Todos os filósofos costumam convergir em alguma ideia: de que o ser humano tem todo o seu potencial, mas apenas poucos terão a coragem de trilhá-lo.

Esse é o papel do Daemon, aqui relatado, para aqueles que quiserem ir além, os caminhos estarão abertos. Aquele sol vermelho sempre brilhará para os guerreiros que não largaram a sua espada, mesmo em meio ao abismo e a derrota. Os filhos da serpente encontrarão a luz própria.

Vocês poderão adentrar no palácio e vestir seu manto púrpura.

Mas nenhum conhecimento será o seu messias. Nenhum Self que te acompanha poderá te guiar dentro do seu próprio abismo. É você quem deve fazer a travessia. Até encontrar aquela chama rubra, é você que deve enterrar os falsos reis e hastear a bandeira do rebelde.

A sua vida só poderá ser vivida por você, mais ninguém.

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2 Comentários

    1. Oi Pedro, foram vários:

      Michael Kelly: Apophis, Draconian Consciousness, Everything and Nothing, The Sevenfold Mystery.
      Kenneth Grant: The Dark Side of Eden, Cults of the Shadow
      Thomas Karlsson: Qabalah, Qliphoth and Goetic Magic.
      Nicolaj Mattos Frisvold: Exu and The Quimbanda of Night and Fire.

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