Alguns cuidados iniciais.
Eu vejo que muitas pessoas têm dificuldade de separar Geburah e raiva. Não são a mesma coisa. Geburah não é destrutiva. Pelo menos não mais do que qualquer outra esfera isolada. (Vocês não querem experimentar Chesed sem a restrição de Geburah.)
Localização da energia
1) mapa da árvore, colocando Geburah
Em Geburah, moram aquelas coisas que separam as pessoas. É uma energia extrospectiva (eu ia escrever “extrovertida”, mas isso dá a impressão de que é alguém que gosta de conversar com os outros, não é isso). Está acima de Tiferet, então para fora do limite do humano; e está à esquerda, então é energia de separação. Age, portanto, mantendo seres humanos distintos entre si; e coisas supra-humanas em geral distintas entre si.
2) Energia de separação, não é uma ideologia específica, mas aquilo que causa repulsa mútua entre duas ideologias. É diferente para cada coisa que a gente quer separar.
Esse energia é muito associada na psiquê ocidental com a casca (coisa externa que nos separa do outro). Por isso, talvez associemos Geburah, ou a esfera de Geburah, com energias “negativas”. Ela é “boa” como Chesed (bondade, benevolência, compaixão) e, com certeza, tão necessária quanto.
3) Consuma a energia, gaste a raiva ou fúria ou o que estiver sentido. Permita-se sentir até o final. Pode ser que
Também é aquilo que mantem uma coisa aquela coisa e não outra. É o que impede que Chesed absorva e unifique duas coisas distintas.
O Nome associado a Gevurah é “Elohim”, palavra associada à entidade que julga, juiz ou superior moral. Geralmente, simplesmente traduzida como D’us. O valor de Elohim é 86. Esse valor é interpretado como IHVH (26) mais qli (60). Assim, Elohim é a qli (casca) de IHVH.
Podemos somar ainda mais 60, obtendo 146, valor de “Olam”, Mundo. O silogismo aqui é “assim como Geburah é casca, invólucro de IHVH, o mundo serve de casca, invólucro para Geburah.
Ainda na gematria, usando a contagem de valores de AtBash (substituição de Alef por Tav, Bet por Shin …), o valor de Elohim é 560. Esse é o valor de “Echad”, um, único.
Onde essas palavras aparecem juntas? No Shema:
שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד
Ouça Israel, IHVH é nosso D’us, IHVH é único.
O que evoca, desperta Geburah?
Todos já ouvimos algo mais ou menos assim:
Odiamos nos outros aquilo que odiamos em nós mesmo.
Dizem “É coisa de gordo”. Se isso te irrita, te irrita porque tu não queres ser confundido com quem concorda com essa frase. Não por uma ofensa direta.
Ou dizem “Lilith é a verdadeira deusa”. Não há porque discordar dessa pessoa. Ela pode pensar o que quiser, que qualquer deusa que lhe convier seja sua verdadeira deusa. Mas se não suportas que pensem que apoias essa ideologia, Geburah entra em ação. Queres — precisas — te posicionar.
São agressões à identidade. Tentativas de absorção (chesed) indesejadas. Quando não queremos que nem pareça que há chance de talvez fazermos parte de algo, Geburah entra em ação.
É comum hoje dizerem por aí que nazista merece soco na cara. É difícil ter compaixão com nazistas. Essa raiva é a mesma raiva. Não queremos ser confundidos com quem apoia. Não queremos entrar nessa egrégora.
Eu, pessoalmente, não acho que a resposta correta seja necessariamente raiva. (Eu não responderia com Geburah, mas vamos assumir que queremos manter nossa identidade separada da identidade dessas outras pessoas.) A resposta correta é assertividade: afirmação e confirmação da própria identidade.
“Você deveria ter mais Deus no coração.”
“Prefiro Odin e Freya.”
“Cara, faz isso pra mim, na amizade.”
“Não. Faço por dinheiro.”
“Amor, você não acha que essa cor de cabelo não te favorece?”
“Não. Acho que fica ótima!”
Porque duas visões diferentes sobre o mesmo objeto, pode gerar dois conceitos diferentes e válidos ao mesmo tempo.
Ritual para Geburah
Faça um banimento, RmP, ou limpeza em hebraico, conforme áudio disponibilizado no fim deste artigo. Judeus podem entoar Shema Israel. Se tua fé tiver algum uma prece para confirmar tua crença, recite agora. Se não tiver, mas quiser usar uma, sugiro o polivalente Salmo 23.
1. Intenção
Queremos o efeito de trazer Geburah para si, não o de sentir raiva. Geburah serve muito bem como proteção (embora ativa), garantindo distância de outras pessoas e ideias.
Imagine seu objetivo ao usar Geburah. Esse objetivo é um caminho longo e escuro. Talvez não seja possível ver nada fora dele. Todavia, é um caminho retíssimo. O que é preciso para que esse caminho continue lá para ser atravessado?
É para isso que precisamos de Geburah.
Não há excessos em Geburah. O caminho é longo mas nunca é longo demais. A mochila é pesada, mas nunca é pesada demais; não porque tenhamos força para carregar qualquer mochila, mas porque temos força para nos livrar de tudo que não é necessário naquela mochila.
2. Declaração
É necessário descrever essa intenção.
Os símbolos associados têm o objetivo primário de prender a mente no estado de Geburah. Não nos serve encher de símbolos um ritual de restrição. Economize.
O hermetismo tem um punhado de cheat sheets de símbolos disponíveis por aí. Do ponto de vista judaico, eu sugiro:
- véu de casamento
- estrela de Davi com círculo de metal
- braço esquerdo (teu braço esquerdo, não braço esquerdo do desenhinho)
- o couro do tefilin
- o nome Elohim*
* Se quiserem procurar na internet, em textos rabínicos, esse nome é substituído por Elokim, com k (à semelhança de IHVH ser substituído por Adonai ou Havayah), por ser, supostamente, muito forte para ser pronunciado “sem querer”.
Na sigilização, os números associados podem ser 26, 60, 86 e seus múltiplos.
3. Contemplação
- Leia a declaração
- Delimite o lugar para começar a evocação
- Entre no lugar demarcado
- Feche os olhos e visualize o caminho reto até o objetivo
- Se alguém se aproximar, afaste-a com o braço esquerdo
Caminhe prestando atenção à respiração. Dê um passo enquanto expira. Inspire parado. Repita devagar. Não tranque a respiração. A garganta deve ficar aberta. Controle o ar com o peito ou com o diafragma.
4 Comentários
Estava aguardando ansiosamente por esse post!!! Avaliarei com mais calma e farei a evocação. Conto como foi, vai que interessa alguém.
Grato!
Com certeza interessa toda divulgação honesta de experimentos no campo da magia.
Fiz a evocação.
Duração de aproximadamente 30m.
Meditando anteriormente sobre este ritual, com rape, vi o ritual se desenhar em minha mente segundo orientação, seguindo a linha central com os necessários ajustes pessoais.
Antes havia feito as práticas diárias, em torno de 50m de práticas.
Coloquei meu altar no meio da sala, com os elementos em suas respectivas direções, cerca de 8 e pouco da manhã. Não me atentei para dias específicos, apenas utilizei a lua crescente quase cheia.
Preparei o que era necessário: arcano da torre e 6 de paus e uma vela grafada GBVRT e o símbolo de Marte, todo o mais já fica no altar. Delimitei o espaço com um pentágono laranja avermelhado, de tamanho suficiente para abarcar meu altar e eu sentado à frente dele.
Li a declaração 5 vezes. Entrei e sentei em meia lotus.
Acendi a vela. Rapé na mão direita, kuripe na esquerda. Firma da intenção no rapé com a leitura da declaração.
A última frase da declaração era: a esquerda do senhor afasta os inimigos. Estou lendo muito o antigo testamento ultimamente.
1° sopro, narina esquerda. “A esquerda do Senhor.. “. 2° sopro narina direita. “A esquerda do…”.
O caminho estreito e escuro está à frente, uma luz branca ao fundo, o objetivo. Na mão esquerda espada, na direita, escudo. Respiração controlada e sem travar. Passos só com a perna esquerda. Botas medievais (!?).
Passo inspiração, expiração.
Surgem pessoas relacionas ao objetivo. Afasto-as com a espada. Não é suficiente, elas vem em minha direção, e são partidas ao meio pela espada em riste, imóvel. Passo, inspiração, expiração. Parto todos em dois “pois a esquerda do Senhor…”. Chego à luz. Um campo de batalha atrás de mim, mas a batalha ja havia ocorrido. Espada fincada no chão. “A esquerda…”.
Termino, levanto, saio do pentágono, desfaço-o e agradeço.
Depois vi que troquei a ordem da respiração conforme indicado no texto.
Obrigado Shbaa.
Muito bom relato.
Espero que tenhas aproveitado as energias.
Shbaa.