O último spoiler

Antes de começarmos, quero propor um exercício.
Imagine uma pedra na mão.
Feche a mão.
Guarde a pedra imaginada ali por uns instantes.
Voltaremos mais tarde.

…

Ok. Este é o último spoiler. A última frase da última monografia. A última troca de faixa. O último segredo no último portal. O último guia que abre a última porta.

Você se senta para ler a última carta, escrita à mão por um Mestre Que Veio Antes e endereçada diretamente a você.

Nela está escrito:

A personagem PROTAGONISTA abre os olhos. Acorda. Foi tudo um SONHO.

Era isso. Você já leu essa carta antes. Já viu esse filme antes. Já ouviu essa história antes.

Na verdade, você já ouviu essa história centenas de vezes, e ela nunca fez sentido. Só que dessa vez vai fazer.

Nicolas Cage vai ver que queria ter uma família. Dorothy vai reconhecer o leão em seu tio. Jodorowsky vai ordenar que a câmera se afaste.

O caminho era um sonho. Você já estava onde queria estar. Só não havia enxergado.

E mais, o caminho foi criado por você mesmo. Enquanto tentava culpar alguém, o culpado era você.

A varinha mágica não serve pra nada. A espada não era encantada. O anel não tinha poder. Era só um placebo. Afinal, o dragão não é nada a não ser reflexo de você mesmo. Faz sentido que a arma para matá-lo também seja apenas você.

Mas você não era capaz de ver isso antes do caminho.

Esta história foi contada e recontada e só agora faz sentido. Está no fim de todas as ordens herméticas, livros proféticos, sonhos xamânicos. Não adiantaria eu contar esse spoiler antes, porque antes não fazia sentido. Agora faz.

(Será mesmo que desta vez você entenderá o último spoiler?)

…

A pedra ainda está na sua mão?
Psiu!
A pedra.
Aquela do começo.
Se estiver, e você a criou, agora use.
Mate seu dragão.

O primeiro e o último passos são iguais.

—

Shbaa.