Comparativos
Comparativos em hebraico bíblico são uma curiosidade por causa da ambiguidade de sua construção. A palavra que marca o comparativo é “min” (mem-nun), que se traduz literalmente como “desde, a partir de”. De forma bem mundana: “José veio da cozinha.” Então, aquele “da”, tendo sentido de “desde, a partir de”, é o “min” em hebraico. Em alguns casos, “min” pode ser contraído para “m” (mem). Por exemplo, “vindo do Egito” ou “desde o Egito” é m’Mitzrayim (se pronuncia “mi-mitizráim”).
Quando usado em comparativos, a tradução da frase fica diferente.
“tovah hachokhmah m’pnyinyim”
A tradução literal é “Boa a sabedoria a partir dos rubis”. A tradução esperada é “A sabedoria é melhor do que rubis”. É uma daquelas frases que só fazem sentido no contexto idiomático da língua hebraica.
boa – a sabedoria – “a partir do” – rubis
boa (é) a sabedoria “em comparação com” rubis
a sabedoria (é) melhor que rubis
Superlativos
A construção do superlativo é também especial.
São superlativos:
el elyon – Altíssimo
kodash hakodashim – Santíssimo
Literalmente, a construção forma “alto dos altos” e “santo dos santos”. Algumas formas podem ser traduzidas para o Português, outras acabaram por se manter na tradução literal.
shir hashirim – Cântico dos Cânticos
adonai haadoniym – Senhor dos Senhores
hevel havalim – Vaidade das Vaidades
shabat shabaton – Sábado dos Sábados
A construção foi herdada pelo latim e a conhecemos hoje em filmes de máfia. O “poderoso chefão”, por exemplo, é o “Capo de tutti capi”, chefe dos chefes ou, literalmente, cabeça de todas as cabeças.
A ambiguidade aqui é a de que se imagina hierarquia. Um “chefe” que manda em todos os “chefes”, quando, na verdade, é uma questão de qualidade. No hebraico, o melech ha-m’lachim – Rei dos Reis – não é um rei que manda em todos os outros reis. Mas é um rei que representa o máximo de todas as qualidades esperadas da Realeza.
Da mesma forma, Adonai haAdoniym não é um deus que comanda os outros deuses. Ele é o deus escolhido para representar as qualidades ideais de um deus.
A questão das expressões idiomáticas é importante para a tradução dos textos sagrados. Não só pela precisão da tradução, mas, ao contrário, para evidenciar o caráter metafórico da narrativa.
Ou podemos buscar sabedoria em pedras de rubi-estrela, evocar filhos de entidades sem sexo e pedir que nosso rei megalomaníaco seja o tirano do mundo todo…
Shbaa.