Aprendemos coisas impressionantes com os espíritos.
Sempre foi de minha opinião, tanto enquanto terapeuta holístico quanto enquanto pessoa, que a primeira coisa que via ao olhar para alguém era aquela pessoa em si. É óbvio, não?
Você olha para alguém, você conhece aquele alguém. Olhe lá o Cláudio. Você viu a cara do Cláudio, se você for falar do Cláudio, claro que você vai saber quem é o Cláudio, certo? Errado.
O paradigma comum, tanto na medicina quanto na filosofia e até na holística, é de que o indivíduo está no exterior. Não exatamente em seu corpo, mas certamente ali, visível aos olhos. A pessoa é só uma pessoa. E se ela está doente, então a doença se esconde em algum lugar dentro dela. Veja ali um câncer comendo os intestinos. Está dentro da pessoa, certo? Veja ali uma obsessão complexa emocional. O “chip astral” está em seu para-cérebro, está dentro dela, certo? Ou uma doença mental. É ainda algo dentro da pessoa. A mente dela está doente. Tire a pessoa da frente, analise a mente, analise a doença. Aí você encontrará a cura para a pessoa.
De certa maneira, essa forma de pensamento está enraizada em nossa cultura. Suas emoções são “guardadas” dentro de você. Seus pensamentos ficam “dentro” da sua cabeça. O seu corpo é algo que fica dentro do seu espaço pessoal. É claro, sua propriedade, seu carro, todas essas coisas acabam caindo nesse engodo também – de alguma maneira, acreditamos que essas coisas não são coisas externas a nós, mas sim partes de nós. Por isso, vemos tantas pessoas comprando objetos para satisfazer necessidades mentais ou emocionais, por exemplo.
Se o brinco de brilhantes está “dentro” de “você”, isso é, faz parte do seu ser, da pessoa que você é (note que aqui não estou falando do ego, que é só uma estrutura mental) – então claro que aquela ansiedade que está também dentro de você pode ser direcionada ao brinco – e resolver o seu problema. Contudo, a realidade não age assim.
Por mais que o marketing em diversos níveis associe nosso “interior” (pensamentos, emoções etc.) a algo que está dentro de nós, e os produtos a serem vendidos como coisas que são capazes de acessar e sustentar esse interior, nada disso está dentro de nós. Tudo isso está fora, em diversas camadas, sendo uma das últimas delas nosso corpo. Entendamos.
Não somos nosso corpo.
Isso é fácil de entender. Até mesmo quem está em um campo minimamente menos cirúrgico, como a psiquiatria, compreende que o “ser” é diferente de seu “corpo” (nem que seja por achar que o “ser” é um pedaço do corpo, o cérebro). Nós não somos nosso corpo. Habitamos nosso corpo, como um “avatar” nosso em um jogo. O jogo da vida real. Ele é maciço. Não estamos “dentro” dele no sentido de que pode-se abrir o corpo e encontrar ali nossa alma. Nem nossa alma está em uma “quarta dimensão” física. O plano astral, das almas, é um plano de existência totalmente diferente – um outro universo (pelo que entendemos de universo como algo físico), pode-se dizer.
Então, busquemos por nós mesmos.
Corpos Sutis
Sabemos que há nossos corpos sutis. Que nossas emoções formam o corpo emocional, feito de forças emocionais, as quais são dadas forma por nossa mente – que, por sua vez, é o nosso corpo mental. Acima do (ou dos, dependendo da classificação) corpo mental, há o corpo crístico, ou centelha divina. Ali estamos “nós” – ali está o último estágio de nossa existência enquanto seres individuais. Acima disso, já falamos de mônadas ou coisas semelhantes.
E o que isso significa
Mas, se os corpos sutis estão acima de nós, isso não significa que estão para fora? Nossa alma pode se expandir para além do corpo, logo, ela não está exatamente dentro do corpo, certo? Aliás, ela está totalmente fora, já que o corpo é um avatar da alma.
Sim, e não.
Sim no sentido prático. A alma é um algo diferente do corpo, separado dele por um plano de existência inteiro (e ligado por ectoplasma). Mas não, no sentido relativo à pessoa. Nossas emoções não parecem, a nós, virem de fora de nós. Elas parecem vir de dentro. Nossos pensamentos também.
O erro aí é que por mais que pareçam vir de dentro, elas ainda estão vindo de fora, pois nós não somos o corpo, nem a alma, nem a mente. Todos esses são avatares para a manifestação do espírito, e isso é muito importante de saber quando vemos alguém ou, acima de tudo, quando estamos indo curar alguém.
O que parece estar dentro, está fora.
A alma está fora do corpo. A mente está fora do corpo e da alma. O espírito também. E o além do espírito, os planos divinos, esses então estão muito além. Podemos exemplificar dizendo que a alma é maior que o corpo, e que a mente é maior que a alma, e que o espírito é maior que a mente – e que eles se vestem como uma bonequinha matrioska.
Isso é, do lado de fora de nós mesmos, no mais exterior, está nossa individualidade. Um pouco mais para dentro, está nossa mente. Depois, nossa alma, e só aí nosso corpo. Uma doença que se inicie na mente, por exemplo, pode ir penetrando mais fundo em nós – chegando à alma, e depois ao corpo. E vice-versa. Contudo, isso é apenas na visão de alguém que veja, simultaneamente, todos esses planos!
O que parece estar fora, está dentro.
Na nossa visão individual, enquanto seres humanos limitados (meros mortais e não ainda Iniciados Adeptos Mestres Fodelões), parece-nos que é o oposto quando isso é direcionado a nós. O espírito parece estar lá no fundo. A mente depois. As emoções, e aí o corpo. E parece-nos que a ordem está correta, ao olhar para o outro.
Parece-nos que vemos a pessoa, o indivíduo, o ser. E daí vem sua mente no que ela diz, suas emoções nas expressões do corpo, e o corpo em si. Exceto que nós não temos essa visão tão extensa. O que vemos à nossa frente, ao olhar para alguém, é meramente o seu corpo físico. É a parte mais interna (e que para nós, em nós mesmos, sentimos como externa) daquela pessoa.
Para chegarmos à pessoa de fato, temos de olhar para ela e fazer o mesmo processo que fazemos para observar nossas próprias mentes e almas. Isso é, temos de “mergulhar” na pessoa. E isso é o que torna isso tudo tão confuso. Se os corpos sutis da pessoa estão “para fora” dela, por que temos de “mergulhar” para vê-la? Para ver ela enquanto pessoa, enquanto quem ela realmente é?

Uma Questão de Ponto de Vista
Porque nós não conseguimos ver além do corpo físico, e, assim, confundimos o físico com o espiritual. O fato é que, ao vermos alguém neutro, dormindo, por exemplo (ou morto!), temos a impressão de que a pessoa, o indivíduo, está ali. Quando muito, imaginamos que ela possuía uma alma, e que essa alma foi embora. O importante é entendermos que ela não possuía uma alma, ela era um espírito, e ainda é.
O corpo inerte é apenas um corpo. A alma, apenas uma alma. A mente, apenas uma mente. O corpo de uma pessoa não é quem ela é, a alma não é quem ela é, nem a mente. E, por isso, ao vermos uma doença em qualquer desses estágios, temos de perceber que a doença está fora da pessoa, e não dentro dela – mesmo que tenhamos de “mergulhar” na pessoa para achar essa doença e ajudar a remover.
Sim, os errados somos nós, pois nos acostumamos tanto com a ideia de estarmos dentro de nossos corpos físicos, de nossas emoções, pensamentos, relacionamentos e até propriedades habitarem nosso interior, que não percebemos que tudo isso é externo a nós. E que, quando olhamos para nossos pensamentos ou sentimentos, devemos procurar fora de nossos corpos, e não dentro. E que quando buscamos observar os pensamentos e sentimentos de alguém, devemos procurar fora dos corpos dessas pessoas. Claro, isso não é para dizer que a medicina não deva procurar por neurotransmissores ou semelhantes.
Pode e deve.
Há consequências físicas para aquilo que está fora do físico. Mas o terapeuta holístico deve sempre se lembrar que a doença está fora do paciente, está fora do seu ser. Não se deve olhar para uma pessoa em surto psicótico, ou aos prantos, ou sofrendo de dor física, e achar que aquela é a pessoa.
Aquela é a doença.
A pessoa está fora daquilo. Está fora do corpo deformado, fora das emoções turbulentas, fora da mente quebrada. Até mesmo seu corpo, aliás, está fora do câncer. O câncer está ali, comendo a pessoa, mas o corpo está fora dele – ao redor dele. As emoções estão ali, ao redor das águas emocionais turbulentas. A mente está ali, ao redor do abismo psicótico ou da montanha de espinhos da perversão. O corpo está fora da doença. A alma está fora da doença. A mente está fora da doença. A pessoa está fora do corpo, da alma e da mente. A pessoa é o espírito, e como olhamos o espírito a partir do corpo, e como sentimos as reações de nossos pensamentos e emoções dentro do corpo, causando a ilusão de que estão dentro de nós, devemos sim “mergulhar” na pessoa para observar seus corpos e tratar suas doenças.
“Mergulhar” para fora da pessoa e de nossos corpos em direção a nós mesmos.
Ao fazermos isso, poderemos passar positividade à pessoa – à sua mente, de fato, às suas emoções, de fato, e ao seu corpo, de fato. Ao fazermos isso, a doença naturalmente virá para fora e poderá então ser removida, despachada com pai obaluayê, por exemplo.
Não adianta puxar e tentar arrancar o câncer que devora o corpo já enfraquecido de alguém. É necessário primeiro dar sangue, nutrientes e cuidar de toda a homeostase. Cuidar do corpo antes da doença. Se isso é verdade para o plano físico, por que não seria para o emocional e o mental?
Àqueles que, como eu, só pensavam em remover as doenças energéticas de seus pacientes, retirando deles os bloqueios e energias negativas, vejam que estão olhando primeiro a doença e não a pessoa. Estão confundindo a doença em si com a pessoa por fora dela.
Olhem para a pessoa. Enviem a energia para a região ao redor da doença. Retirem aos pouquinhos as ligações energéticas da doença com o corpo, por meio do uso de energias positivas que vão substituir os laços do corpo com a doença. Depois, e só depois, tratem de se livrar da doença.
Amém.
Laroyê exu. Exu mojubá.
1 comentário
à nouveau.. magnifique!