Diversos lugares no mundo possuem folclore sobre entidades que afetam ou mesmo habitam os lares das pessoas – antigas histórias que são comuns na zona rural aqui no Brasil, ou um hábito de tempos pagãos que se tornou um ícone hoje na Europa. Partindo destes contos e de princípios ritualísticos, podemos construir uma prática diária que visa principalmente a proteção das pessoas que moram conosco.
Imagem destacada: arte de um “domovoi”, do folclore do leste europeu
Partindo destas lendas, podemos adotar uma prática diária em um contexto pagão para criar um relacionamento sagrado com o nosso lar e os hábitos que exercemos nele. Em determinadas linhas de pensamento ocultista, como a “pop magick”, é possível usar qualquer tipo de história que esteja no inconsciente coletivo para elaborar uma prática totalmente funcional – e o folclore pode se mostrar uma excelente fonte para tal. Para atrair um nisse para sua casa, comece definindo sua aparência -as descrições que o folclore europeu nos dá hoje fala sobre uma pequena criaturinha peluda, ou sobre um homenzinho barbudo usando um gorro vermelho; porém, espíritos podem se apresentar em uma grande variedade e pode ser um exercício interessante imaginar como seria aquele que decidiria habitar a sua casa e protegê-la. Seria mesmo pequeno? Humanóide? Ou seria mais animalesco? É capaz de falar, ou apenas emite ruídos? Tente conceber uma imagem que combine (ou mesmo personifique) seu lar e seja capaz de protegê-lo.
Agora vamos estabelecer o contato primário com ele. Lareiras são incomuns no Brasil e provavelmente não são mais usadas para cozinhar, porém temos nossos fogões nas cozinhas; em algum momento que for fazer comida, use a chama para também acender uma vela de sete dias (caso esteja habituado com magia rúnica, será interessante gravar as runas othala, gebo e algiz nela). É bem importante que a chama usada para acender a vela seja necessariamente também usada para cozinhar. Mantenha essa vela na cozinha, em um cômodo que a família use para jantar ou onde tiver o maior fluxo de pessoas e reuniões, e quando ela estiver acabando a substitua preferencialmente acendendo a nova vela na chama da antiga.
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Ao lado da vela, deixe um pires ou pequeno copo para oferendas. Compartilhe com o tomte um pedaço de pão ou outra pequena porção de comida que seria partilhada por todos os moradores; caso prefira oferendas líquidas, além dos tradicionais leite ou álcool pode ser interessante oferecer café, tão presente nas casas brasileiras. Lembrem-se que a oferenda deve vir de algo que será também consumido por todos, pois o espírito é também um morador da casa. Faça uma oferenda ao menos uma vez por dia, reafirmando sua amizade e gratidão ao tomte sempre; este é um aspecto muito importante, dado que são seres temperamentais que podem se sentir ofendidos caso esqueçamos de oferecer.
Com o relacionamento estabelecido, você poderá começar a pedir que o tomte retribua sua dedicação. Peça para que ele zele pela casa, por exemplo mantendo todos os aparelhos dela em pleno funcionamento. Também pode ser possível pedir para que ele trabalhe na prosperidade do lar, garantindo que contas sejam devidamente pagas e nada falte. Caso ocorra uma briga ou outra situação que deixe o ambiente tenso, peça para que ele o harmonize e auxilie para que ambos os lados possam ser conciliados e a questão resolvida. Quando tiver um relacionamento mais longo e sólido, talvez seja interessante por exemplo pedir para que ele garanta que uma pessoa que está fora volte para a casa em segurança ou mesmo para que ajude uma pessoa doente a se recuperar. Sempre observem cuidadosamente os resultados da relação.
Quando adotamos um costume, é preciso o vivenciar diariamente através de atitudes e pequenos gestos. Embora muitos resumam práticas devocionais do paganismo a ritualísticas celebrativas elaboradas e libações (blót), o imaginário popular pode nos fornecer todo um repertório para enriquecer nossas possibilidades. Nunca dispense o potencial que lendas possuem, sejam heranças de uma era pagã no folclore europeu ou os contos que persistem de um Brasil rural – estas informações não devem ser estáticas, e podem se renovar ao se tornarem parte de nossas atividades diárias.
Sjáumst bráðlega!
10 Comentários
Isso pode ser muito interessante se levarmos em consideração a prática de oferendas aos lares e espíritos familiares grego-romanos. Os espíritos domésticos estão presentes em uma infinidade de culturas.
Realmente estão, e ainda há todo um contexto em relação a lareiras entre os helenos, bem lembrado! Talvez isso venha de muitos povos da Europa terem sofrido influência dos indo-europeus. Embora eu tenha me focado em um contexto germânico, creio que as ideias podem servir de base para outros tipos de cultos domésticos também.
Poderia usar a mesma premissa mas para um contexto de outra cultura? Por exemplo, Leprechauns ou Brownies? Esses seres seriam realmente atraídos para o nosso lar ou seriam criaçoes (forma pensamento)?
Dá para usar a ideia com outros seres sim, apenas lembre-se de fazer as adaptações necessárias (as runas só seriam recomendadas em um contexto germânico, e seria bom pensar em algo como oferendas com moedas para um leprechaun por exemplo). Agora se estamos lidando com uma entidade independente ou com um servidor alimentado pelos hábitos, ambos são possibilidades e prefiro deixar para cada praticante tirar sua própria conclusão.
Olha, uma dúvida que sempre me surge: o que eu faço com o alimento ofertado depois? Quando eu colocar a próxima oferenda eu tiro a anterior e descarto?
Sim, descarte preferencialmente deixando aos pés de uma árvore ou derramando no solo. Se for uma oferenda líquida, pode inclusive deixar evaporar se quiser.
uma vez ofereci um pedaço de bolo de chocolate para um brownie mas depois havia me esquecido. tentei criar 3 gatos que simplesmente fugiam loucos da minha casa, o ultimo tive de prender numa coleira, mas mesmo assim nao teve jeito. tamaanha era a complicação. depois uma amiga medium disse que tinha um ser morando na minha casa que nao permitia morar lá mais ninguem , a nao ser e o “ser”. um dia tive uma projeção astral (algo que descobri depois) e o vi ao meu lado. levei um susto muito grande. Parecia o elfo doméstico do harry potter, na epoca foi bem assustador. tive que fazer uma limpeza energetica na casa para tira-lo. depois notei que nem relacionamentos conseguia ter. nunca mais chamei nada tamanha é a responsabilidade para tal.
Realmente não podemos esquecer deles, são muito temperamentais! Por isso que precisamos definir muito bem como será a dinâmica entre nós e eles, regras para ambos os lados.
Belo texto, muito bem explicativo ! Mas não consegui entender direito a parte da imaginação. Se eu imaginar o ser ao meu modo, quer dizer que ele é uma criação minha ? Não existia antes de eu imagina-lo?
Você está criando um referencial simbólico para dialogar com um ser que não necessariamente possui forma definida; porém atende-se que o paradigma onde o ser precisaria ser previamente criado pelo magista também existe.
O meu paradigma pessoal equivale mais à primeira visão, mas busque uma conclusão sua também. Leia sobre como lidamos com entidades externas e o modo que sua forma pode ser variável e também sobre servidores para se estender sobre o assunto 🙂