Boa Tarde a Todos e Todas!
Hoje continuamos com nossa série a respeito de Livre Arbítrio e Destino.
Fazendo uma rápida recapitulação, no post passado chegamos à conclusão de que somos todos seres limitados, uma espécie de biomáquina ou biocomputador sem nenhuma verdadeira liberdade de ação, produtos do Big Bang – tudo que fazemos é consequência dos pequenos átomos na nossa cabeça.
MAS!
Hoje eu reviso essa ideia. Venha comigo!
Só somos produtos do universo material se os nossos cérebros forem mesmo as nossas mentes . Se a sua mente for algo em separado, por exemplo, um corpo mental, então existe outra chance. Existe a chance de que você não seja controlado pelas Leis Naturais, e que, na realidade, seja sim Individual.
Mas se não são as Leis Naturais que determinam isso…. então de onde vêm seus pensamentos? Será possível que existe algo ali que resolve nosso problema? Que justifica nossa necessidade de Livre Arbítrio e que nos dá a resposta que precisamos para sanar essa impressionante “falta de Eu” que aparece quando pensamos no Universo e nas Leis Universais?
Sabemos que pensamentos também possuem, em algum nível, leis para eles. A espiritualidade nos dá inúmeras formas de demonstrar a existência de uma Lei Maior — um conjunto de Leis Naturais que se aplicam à mente, à alma, e talvez até mesmo ao espírito. No fim, mesmo que nossos cérebros sejam diferentes de nossas mentes, se existem Leis ou se existe Caos, nada disso realmente importa, não é mesmo?
Pois está aí a resposta para a primeira grande pergunta que abriu esse enorme texto: ao pensarmos em determinismo, ao pensarmos em nós perante o universo e o destino, cometemos o grande erro de falar de “nós” sem saber o que somos.
Ao analisarmos mais profundamente, fica claro que, se o Universo possui Ordem, então há Destino. E se há Ordem para nossos Pensamentos, se há Leis que regem como pensamos e porquê pensamos, então não somos “nós” que estamos definindo isso. No fim, o livre-arbítrio existe. Nós fazemos escolhas, e nossas escolhas constroem nosso destino. Nossos atos têm consequências.
Mas mesmo as escolhas que fazemos, e talvez mesmo “nós”, somos meramente produto das Leis. Somos agentes de nosso próprio Destino, certamente, e podemos controlar muitas coisas – mas todo Controle que realizamos não passa de uma Reação a certas forças dentro de nós. Forças previsíveis àqueles que possuem o conhecimento de quais são essas Leis e de qual o nosso Estado atual.
E de onde vem esse erro? E de onde vem o profundo incômodo associado a ele?
Poder
A palavra é simples. Livre-arbítrio é uma construção baseada na ideia de Poder. Queremos ser donos de nós mesmos. Controlar a nós mesmos. Não queremos que nossos pensamentos sejam fruto de um universo onde simplesmente aparecemos. Não queremos que nossas escolhas sejam fruto de leis e previsíveis. Não queremos ser simples máquinas, peças do grande “relógio” que é o universo, controladas por programas condicionais em um enorme software transcendental.
Queremos “ser alguém” perante o universo!
Queremos estar em pé de igualdade, pois identificamos uma diferença enorme entre “nós”, limitados, e o “universo”. “Nós” estando aqui dentro. “O universo” estando lá fora. E está aí o erro.
Todo ser humano tem necessidade de poder. Nosso terceiro chakra é isso. Poder é ação. É a capacidade de agir. É a força para realizar alterações em algo. E essa força requer a percepção das situações. Requer que tenhamos formas de controle. A ideia de que somos meras reações, do ponto de vista de quem está imerso nessa força, parece muito similar com a de ser controlado.
Confundimos nossa posição como reações das leis cósmicas como um controle do universo sobre nós, ou do Big Bang, quando não é isso que ocorre! Pois a verdadeira barreira aqui não é a da individualidade perante o todo, do controle pessoal perante o universo. O destino não revolve ao redor do controle, nem controla ninguém. O destino é meramente o resultado da causalidade, e a causalidade em si é a fonte de todo controle e de todo poder. Ela é a matemática, ela é o aspecto quantitativo. Ela é a fonte do poder.
Não há poder sem destino. Não há controle sem destino. E não há Ego sem destino.
Destino
Caos e Ordem.
Muitos os veem como contraditórios, mas a única possível origem para a Ordem é o próprio Caos. Até mesmo aqueles que acreditam em um deus supremo, pensem bem. Se esse deus criou a Ordem, do que ele em si é feito? Se falarmos que ele é feito de outra forma de Ordem, então ele não é Onipotente, pois possui Ordem – possui limites. Um ser Onipotente necessariamente será feito de Caos. Será feito da falta de ordem.
O Caos não pode ser contido pela Ordem, pois ao tentarmos Ordenar o Caos, temos Ordem – desaparece o Caos. Mas a Ordem pode existir dentro do Caos – pois o Caos, em sua falta de Leis, permite a existência do próprio paradoxo. Permite que haja Ordem sem se tornar Ordem ele mesmo, continuando a ser Caos. Da mesma forma, “nós”, enquanto seres definidos, enquanto “quem nós somos”, somos uma forma de Ordem.
Você.
Sim, você leitor.
Qual o seu nome? Qual sua idade? Profissão?
Quem é você?
Qualquer coisa que você disser e que sirva para te dar Identidade também te trará Limitação. Você só pode ser o “fulano de tal” em um mundo onde exista uma definição para o que é “ser fulano de tal”. Você só pode ser o “fulano de tal com tantos anos de idade” em um mundo onde exista uma definição para o que é ser ambas as coisas ao mesmo tempo. E uma coisa só possui importância perante a outra, isso é, você ter 30 ou 3000 anos de idade só diz algo a respeito de você, se houver Leis que determinem como isso afeta o resto!
Pense bem. Você em um ringue de luta-livre contra um recém-nascido. Você pode escolher entre sair do ringue ou chutar o bebê. Qual você escolhe? Por que você escolhe?
Independente da sua resposta, ela vai estar relacionada ao resultado dessa pergunta.
Se sair do ringue significar que o bebê explode em pedacinhos e chutar o bebê significa que ele não só não sente dor nem tem nenhum dano, como ainda se torna um adulto produtivo e feliz no futuro, você ainda escolheria o que escolheu lá atrás?
Se sim, então sua resposta deve se basear em um argumento dogmático superficial, do tipo “porque é certo” ou “porque é errado”. E, nesse caso, perguntar porquê algo é certo ou porquê algo é errado é que traria a mesma situação para o presente.
Agora imagine que ambas as situações são totalmente caóticas. Não importa qual você escolha, o resultado não pode ser sabido. Você pode sair do ringue e não acontecer nada. Ou você pode sair e o bebê se tornar um adulto no mesmo momento. Ou você pode virar o bebê. Você pode permanecer e as mesmas coisas acontecerem. Sua escolha não interfere em nada. A chance é a mesma.
Talvez você escolha alguma das opções para demonstrar alguma espécie de atitude (do tipo “eu rejeito esse desafio”) ou por conta de alguma espécie de princípio (do tipo “é errado chutar bebês”). Mas em qualquer dos casos, a mesma situação aparece. Você está escolhendo fazer uma coisa ou outra por conta do que isso significa, do resultado, e do que você quer produzir com ele — seja essa produção a de uma “escolha correta” perante sua moral, ou simplesmente de desafio perante a situação.
Tudo o que nós fazemos, e tudo que julgamos como certo ou errado de fazer, só o fazemos por conta dos resultados de nossas ações, das consequências que elas trazem. Da mesma forma, só possuímos o poder de escolher porque existem essas definições. Porque definimos as coisas como certas ou erradas, porque definimos que a “ação x vai gerar a reação y, logo, irei fazer x porque desejo que aconteça y”.
Você troca as fraldas do seu filho que se cagou porquê você espera que aquilo limpe as fraldas. Você trabalha porque espera que aquilo te traga dinheiro. Você respira porque espera que isso te traga a satisfação de encher o pulmão de ar (além de te manter vivo). Toda ação tem um motivo, e esse motivo é sempre relacionado à Causalidade à existência de Limites e ao que isso significa — que Controle é possível, e também possível é o Poder.
Daí vem que é justamente porque estamos em um sistema onde há Leis Naturais. É justamente porque estamos em um sistema onde nossas escolhas dependem de quem somos, e, logo, não são feitas realmente por “nós”, mas sim “por quem somos, como pensamos e como escolhemos”. É justamente porque, no fim das contas, só escolhemos o que escolhemos, mesmo que tentemos mudar a nós mesmos para escolhermos melhor, porque em algum momento surgiu uma força em nós nos trazendo a vontade de escolher, o que implica que não fomos nós que geramos isso. É justamente porque, em essência, não possuímos poder algum, não somos nada e não definimos nada – que é possível termos todo poder do mundo.
Nós e o Mundo
Mas dito isso, o que somos “nós”?
Se ao nos Limitarmos nós produzimos a possibilidade de “estar no mundo” e fazer parte dele, das correntes de poder e controle, o que somos quando não nos limitamos?
Quando não nos damos qualquer tipo de significado?
Quando sequer dizemos que nós existimos, pois a própria ideia de existência ou inexistência, em si, é uma forma de limitação?
Nesse estado deixamos de ser quantidade e nos tornamos qualidade. Deixamos de ser exatas e nos tornamos humanas. Deixamos de ser um e nos tornamos algo a que números e classificações não se relacionam. Ora pois, podemos então usar isso para recriar a nós mesmos e ganhar ainda mais poder?
Muitos livros e autores de LHP dizem que é possível. E até mesmo a Chaos Magick, especialmente na sua vertente da IOT, frisa que ao abandonarmos a Dualidade é possível alcançarmos o verdadeiro estado de “tudo é verdadeiro, nada é permitido”, e dali é que vem o grande poder.
A resposta é simples: não.
Se desejamos nos tornar isso, então estamos na causalidade. Pois desejo gerando ação é causal. Se desejamos reconstruir nosso ser para termos mais poder, isso é causalidade. Qualquer ação, de fato, que vise alcançar esse estado para, a partir dali, nos reconstruirmos em um ser super-poderoso, está ainda agindo nas bases da Causalidade – está esperando que possamos atingir algo Transcendental para então jogar uma “Ordem” ali e assim obter poder.
O que está além da Ordem, o que é Acausal, é Caótico. É filosófico. E não trabalha com Poder, pois Poder é algo que só existe ao nível da Ordem. O que podemos fazer é achar o limite. A beira entre um mundo e outro. O véu entre a Possibilidade, a Impossibilidade e o Transcendental. Entre a Ordem e o Caos.
No limite entre o Ser, o Não-Ser e o Inominável, ali está o reino onde um toca o outro — onde podemos, ainda Sendo, ainda Pensando, ainda Desejando, reprogramar qualquer coisa, e de fato tocar no Destino. Mas mesmo isso ainda será Destino, pois foi o Desejo, pois foi a Ordem, que trouxe esse texto a você caro leitor. Que trouxe a você a percepção de que existe esse véu, de que você pode acessá-lo e dele beber.
Ali está o segredo para todo milagre, para toda magia, para toda força que transcende a Ordem do Universo, e de fato gera um ato “impossível”. Ali está o segredo do grau de Magus — daquele que domina toda Magia, pois está em contato com o Caos. Mas eu falei talvez um pouco demais? Vamos voltar ao mundo.
O seu incômodo com o fato lógico de não ter livre-arbítrio, de ser apenas o produto de uma reação em cadeia, de que todas as suas ações e reações são meramente devidas a como você está Ordenado e, em última análise, à Ordem Universal, à Lei Maior. Como está ele? Um pouco melhor? Se sim, então você, depois dessa enorme discussão sobre coisas grandiosas, depois de ter sido revelado um pequeno segredo oculto e encostado mentalmente na ideia de poder ser infinito, um deus encarnado…
Bem, você descobriu um pequeno mistério.
E no próximo post: O poder e a resposta.
7 Comentários
Desmond Desfables, você é incrível! Fiquei curiosa…
Você escreve de onde? Parece muito português de portugal 🙂
Olá Teresa.
Obrigado pelo elogio.
Eu escrevo de Minas Gerais (Brasil) mesmo. Contudo, geralmente quando escrevo me torno tão absorvido na escrita que não duvidaria de haverem algumas influências que não a minha no texto – especialmente visto que sou médium de incorporação 🙂
Uma pessoa tem que ter uma pré-disposição já nascida com ela para incorporar ou consegue desenvolver a sensibilidade?
Como se faz a distinção entre a informação que está contida em mim sem que eu saiba, e a informação que me é transmitida por outros seres?
Por volta dos meus 13 anos, algo despertou em mim.
Nunca consegui perceber se era algo que já trazia em mim ou se foram fatores exteriores.
Mas creio que foi devido à sensibilidade que tenho em receber o exterior.
comecei novinha a escrever sobre assuntos que para os escrever precisava de sentir, sentia como se os entendesse, chorava e respirava mais profundamente, e no final, relia e nao entendia.
Era bonito, e fazia-me conectar-me a algo.
Algo que eu propria dizia ser deus.
Mas será que esse deus nao sou eu propria?
Que essas informaçoes sao informaçoes adormecidas em nós mesmos? sem influencia de outros seres e realidades? ou é inevitável a nao interferência de tais seres?
Normalmente esse tipo de resposta só pode ser respondida com confirmação externa. Se são memórias pré-vida atual, ou advindas de campo mórfico, ou ainda de contato com vidas paralelas, de contato com o inconsciente coletivo, do Akasha ou similares (como vivenciar vidas passadas ou atuais de outras pessoas), esse tipo de contato, espera-se, manifesta-se quase exclusivamente através de você (já que outras pessoas normalmente não acessam essas coisas sem saberem o que estão fazendo).
Então a prova mais objetiva nesse quesito seria achar outro médium e buscar ver se ocorre alguma forma de contato – se alguém consegue ver um espírito ou mentor te guiando, ou se alguém consegue até incorporá-los.
Claro, outra possibilidade é você tentar conversar com quem quer que seja que está te passando essas informações – isso pode trazer uma indicação de que não é algo desprovido de ego (ainda que sempre possa ser uma parte de você ou um resto de ego flutuante que exista no plano mental, e não um espírito per se) – o que já ajuda no processo 🙂
De qualquer maneira, é uma daquelas coisas que jamais podem nos trazer respostas 100% seguras. Mesmo que espíritos começassem a se materializar a nossa frente, e todos pudessem vê-los como nós vemos os outros encarnados, quem garante que tanto eles quanto os encarnados não são só parte de nós mesmos ?
Esse tipo de questionamento é vazio – não existe garantia de nada no universo – e ele não funciona com base em garantias (ou sequer parece necessitar de objetividade em certos níveis, como o quântico).
Vale aí o que já dizem os espíritas a uns bons 200 anos – não se importe com quem passa a mensagem, mas sim com o conteúdo da mesma 🙂
Respondendo à sua primeira pergunta Teresa, são ambas as coisas.
Todos os seres humanos possuem todas as mediunidades e sensibilidades paranormais possíveis, e é possível também desenvolvê-las a níveis utilizáveis na vida diária – contudo, a maioria não o faz (até porquê é um processo geralmente lento, complexo e que muitas vezes demora muito a dar resultado).
Há algumas coisas que podem acelerar o processo, e coisas como Giras ou Sessões de Desenvolvimento Mediúnico em casas espíritas ou terreiros de umbanda são algumas delas (certos cultos da universal que buscam “despertar os dons” divinos nas pessoas também contam, mas para o lado negativo…).
Por outro lado, certas pessoas já nascem com algumas dessas capacidades bem mais desenvolvidas que outras. Isso pode acontecer por vários motivos – a pessoa pode ter feito um contrato com espíritos no período antes de reencarnar, por exemplo dizendo que iria se dedicar a ser médium nessa vida, ou pode ter desenvolvido a habilidade por conta própria em outras vidas passadas.
Obrigada Desmond
🙂
Disponha 🙂