A Trindade Draconiana: Exu o Senhor do Vazio

Seguindo (finalmente), com a séries de postagens sobre a trindade draconiana, hoje vou discorrer um pouco sobre o Mistério Exu, fazendo uma analogia com o conceito de Senhor da Escuridão.

Exu, na mitologia Yorubá, é conhecido como o Senhor dos Caminhos, é ele que faz a conexão entre o Orúm (céu), os deuses (Orixás), o Destino (Odu), a terra (Ajé) e a humanidade. Diz-se que sempre se deve primeiro oferendar Exu, para que ele faça a conexão entre a pessoa que fez a oferenda e o alvo de seu pedido.

Na umbanda, exus são as entidades que trabalham em linhas de Esquerda. Diz-se aqui, num sentido mais básico, que eles estão nas dimensões “à esquerda da criação”, no polo negativo, magnético. Essas entidades trabalham com os defeitos dos pólos negativos dos tronos sagrados dos orixás (segundo a teogonia escrita por Rubens Saraceni). Esgotando defeitos humanos até que eles cessem e possam ser “positivados” e estarem em harmonia novamente. Nessa visão de Saraceni, todos os defeitos humanos são apenas desequilíbrios. Imagine um barril cheio de água lamacenta, essa água lamacenta é o que chamam de “energia negativa”, num conceito mais exato, seria apenas energia desequilibrada. O papel de Exu, seria esvaziar esse barril, ocorrendo assim um “esgotamento”, para que o barril pudesse ser preenchido com água limpa.

Trabalho Com Exú para Proteção no Carnaval - Serve para o ano todo_thumb[1]

Tendo como base um pouco do que foi dito acima, vamos aprofundar o mistério. Diz-se que Exu rege “o vazio”, que é o estado anterior a criação¹. O Vazio seria um “abismo exterior” a criação (não confundir com Daath) onde o Nunca Inexiste Em Lugar Algum. Poderia ser descrito como uma “anti-dimensão”, atemporal, acausal e infinita (sem espaço). Onde todas as possibilidades “co-existem”. É o paradoxo, o “caos”.

Por este fato, tem-se que Exu é o Senhor dos Caminhos. Ele possui uma personalidade contraditória e avessa. Muitos lugares o temem por ver seu comportamento como imprevisível.

Voltando a correlação Draconiana, Exu pode ser comparado com Seth.

Seth é o Deus do Caos e da Destruição, conhecido como inimigo dos deuses. Apesar da mitologia estéril que chegou até os dias de hoje, Seth é quem vence Apep o qual representa a ilusão. (Falaremos mais de Apep quando eu falar de Exu Mirim como mistério draconiano). O fato disso estar relacionado a Hórus, tem um pouco do fato de que em dado momento, os sacerdotes de Hórus, venceram os de Seth, e alguns mitos foram distorcidos. Há quem diga também que Hórus e Seth são prismas de um mesmo mistério.

Exu também pode ser relacionado com Prometheus, que rouba o fogo dos deuses para a humanidade. Ou mesmo o próprio Lúcifer.

Exu

Num contexto mais local, Exu é quem está mais próximo da humanidade. Por trabalhar os defeitos humanos, os compreende num contexto mais próximo, não os julga, como infelizmente as correntes cristãs ou mesmo algumas de Umbanda acabam propagando. Exu é o senhor da Vitalidade, do vigor sexual. A bebida forte que as entidades bebem: cachaça, whisky, conhaque, representam o líquido famígero. O charuto é um mistério fálico. Nesse sentido, Exu traz a tona a liberdade, a contradição e tudo aquilo que é reprimido. Da mesma forma que os outros deuses citados, Exu confronta o status quo e revela aquilo que está oculto, trazendo assim, o entendimento verdadeiro sobre as coisas. Ele representa o entendimento ou reconhecimento da Consciência Isolada: você não é parte de Deus, você é um deus em potencial, independente e com luz própria. Exu também é a serpente do Éden que faz Adão e Eva comerem o fruto proibido da Árvore do Conhecimento. Para aqueles que podem ver, Exu ser comparado ao Diabo, numa religião cheia de dogmas, repressões, contradições morais, hipocrisia e alienação, acaba sendo um verdadeiro elogio. Mas Exu, apesar de estar numa posição de Opositor (Shaitan), não é o que chamam de Diabo (como o ego inferior).

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Exu é o Senhor da Escuridão, pois mostra que existe algo além da Luz da própria criação. O conceito das Qliphot, por exemplo, é a de que são cascas vazias da luz do criador. Nesse sentido, Exu está além da criação, sendo assim o Senhor do Vazio.

Uma analogia mais precisa com o Conceito de Senhor da Escuridão, poderia ser do mito de Lúcifer, que ciente da tirania do Criador, desperta nos outros anjos a Verdade e com isso, causa uma rebelião. Depois disso é expulso dos Reinos da Criação, e faz nas Trevas a sua morada. Tornado-se assim o Senhor do Inferno.

Recomendo para leitura, o mito criacionista apócrifo no Liber Falxifer II – The Book Of Anamlaqayin (Ixaaxar) e também o Diabolicon (Michael Aquino).
PS: recomendo uma leitura para entender o símbolo, não uma visão “literal” de algo que realmente tenha acontecido.

Laroyê Exu, Exu omojubá!

 

¹ Mistério Exu – Rubens Saraceni / Pesquisar sobre Tohu e Bohu

 

PAZ
K.

kass

 

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