Pai e filha seguem a longa tradição do debate transgeracional no judaísmo, buscando entender a relação dos judeus com o texto mesmo antes da escrita da Torah propriamente dita. O texto escrito no judaísmo é importante simbolicamente por ser fixo. Mesmo o judeu iletrado aprendeu a decorar a palavra da Torah, repetindo-a para seus filhos e netos. Essa imutabilidade da palavra escrita contrasta com a tradição do diálogo sobre a interpretação da Lei. Se a palavra é fixa, sua interpretação é viva: carrega não só o significado original, mas seu significado histórico e o significado que precisa ter para a vida do judeu hoje.
O livro se separa em 4 capítulos:
- Continuidade
- Mulheres vocais
- Tempo e atemporalidade
- Cada pessoa tem um nome; ou os judeus precisam do judaísmo?
O segundo capítulo traça uma visão não-romântica sobre o papel da mulher no judaísmo. Mulheres do povo e mulheres estudiosas de famílias abastadas. A religião institucionalizada parece ter suprimido a voz feminina (literal e metaforicamente), enquanto a religião do povo parece não ter se importando em fazer calar as mulheres.
Usando o Talmud contra ele mesmo, os sábios talmudistas registraram que “das 10 partes da fala, a mulher ficou com nove”. Poderíamos deduzir que se há um Talmud escrito por homens, há nove que as mulheres nunca tiveram permissão de escrever. É sabedoria demais para se perder assim.
O terceiro capítulo interessa para compreender a relação do judaísmo com o tempo — tempo cronológico, mítico e até mágico. As noções de início e fim dos tempos. A relação entre memória e história.
Um ótimo livro para ver como a palavra hebraica adquiriu função análoga à do código genético na sobrevivência do povo judeu.
Shbaa.