Não ignorem a semântica. Mas aprendam o significado das palavras antes de negar a mensagem:
Vontade é poder restringir a própria liberdade.
Quando uma semente se torna árvore, ela deixa de ser todas as outras árvores. Eu vejo pessoas falando sobre agir conforme a vontade. Elas falam em serem desenhistas, escritores, ricos, empresários, adotar ONGs e patrocinar festas enquanto gravam álbuns de música eletrônica e namoram modelos internacionais. Não sei de que vontade estão falando.
Vontade, não só querer, mas agir sobre o que se quer, é um ato restritivo.
Voltemos alguns passos para examinar a ideia. Digamos que eu queira ir de casa até a Prefeitura da cidade. Pode ser a pé. De onde estou, posso fazer essa caminhada em menos de uma hora. Para cumprir este objetivo, preciso decidir não ir ao shopping durante esta próxima hora. Também não posso voltar à faculdade ou à escola durante esta próxima hora. Eu posso até parar em cada barzinho para beber água e comer alguma coisa enquanto me dirijo à Prefeitura, mas isso só atrasa minha jornada.
Também não posso mudar de ideia durante esta próxima hora. Se eu quiser ir até a Prefeitura e, no meio do caminho, decidir ver o por do sol na Zona Sul, tenho um problema. Ou vou até a Prefeitura agora, ou vou ver o por do sol agora. O universo criado pela minha própria vontade tem limites. Limites são exatamente a força que cria nosso universo, que lhe dá forma.
Posso ser rico, empresário, adotar ONGs e desenhar histórias em quadrinhos, mas, quando acordo de manhã, preciso decidir como será o meu dia. Se vou primeiro ao caderno de esboços ou ao banco. Isso só se materializa quando eu decido quais coisas não fazer. E me nego a fazê-las pelo tempo necessário.
E qual o valor disso tudo?
Moral é o querer e o agir conforme a vontade, completando o ato.
A fome não é moral. A raiva não é moral. A ideia não é moral; também não é imoral.
Não é imoral querer desfrutar das riquezas materiais sem trabalhar por elas. Nem sentir fome ao ver a carne macia de um animal jovem cozido no leite da própria mãe. Não é imoral querer o prazer do sexo com o cônjuge amado antes do casamento. Nem é imoral se esse sexo pensado envolver a melhor amiga da noiva, do noivo e o sacristão minutos antes da cerimônia…
Alguém me disse uma vez: “escolher casar com um marido é negar a si todos os outros homens do mundo“. Eis um ato moral. Se a pessoa não sente nada pelos outros homens, apenas pelo seu marido, qual o valor desse ato? Ela está apenas seguindo seus instintos. E se são os outros que lhe negam o sexo, qual o valor desse ato? Ela está restrita pela vontade alheia.
Moral, liberdade e vontade se equilibram na ponta de uma agulha.
Shbaa.
5 Comentários
Se ” Moral é o querer e o agir conforme a vontade, completando o ato.” e “Não é imoral querer o prazer do sexo com o cônjuge amado antes do casamento “, nesse exemplo específico, ter o prazer do sexo com o cônjuge antes do casamento também não é imoral, se for a vontade de ambos.
Estou raciocinando corretamente?
Com votos de saúde,
José Elias
A resposta está correta. Mas a título de estudo, a ênfase da segunda frase está em “querer”.
“Querer” não completa o ato. É necessário agir sobre o querer. Só assim o ato pode ser julgado moral ou imoral.
É diferente até mesmo pensar mal de D’us e blasfemar em voz alta. Pensar não completa nada contra D’us.
As vezes nem falar se não houver ninguém para ouvir.
Ah, então você quer dizer que só querer e agir sobre o querer dá ao ato uma qualidade moral, seja positiva ou negativa?
Isso mesmo, José. No judaísmo, e em alguns ramos da filosofia contemporânea, não há nada imoral no pensamento.
Pensa assim, se nós não tivermos liberdade para pensar antes de agir, para experimentarmos mentalmente o que queremos fazer antes de fazer, como saberemos se queremos mesmo fazer aquilo que planejamos?
Shbaa ,
Eu diria a você, e não estou sendo original – um amigo ou conhecido me disse palavras de “luz”:ele me disse – José Elias, SEMPRE É DIFERENTE do que imaginamos.
Não sei se é sempre, mas, na minha experiência, é quase sempre.
“Pensa assim, se nós não tivermos liberdade para pensar antes de agir, para experimentarmos mentalmente o que queremos fazer antes de fazer, como saberemos se queremos mesmo fazer aquilo que planejamos?”
Talvez essas palavras valham para outros, mas creio que, no meu caso, tem valido “Sempre é diferente do que você imagina.”
Quero acrescentar uma experiência pessoal que tem relação com o artigo, mas vou deixar isso para a próxima vez.
Obrigado pela resposta.
Aceite meus votos de saúde .
José Elia