Os passos de um Xamã – Primeiro Movimento: “Nascer”

Aho! O Grande Espírito que habita em mim, saúda o Grande Espírito que habita em você!

Inicio hoje, mais uma coluna no Colégio Platinorum. Entre outros nomes, aqui serei conhecido como Wahkan, o peregrino. Tenho em mente trazer outros temas, porém, hoje venho trazer o primeiro texto de outros que virão, sobre Xamanismo. Que a Grande Águia guie nossa jornada de conhecimento!

O Xamanismo é uma p2bc67cebcc761c62e4b99abdd697e33crática primitiva de contato com o mundo espiritual, quase tão antiga quanto à própria consciência do homem sobre si mesmo. Por definição da palavra “Xamã”, que deriva do tungue siberiano “Saman”, entre outras traduções, diz respeito a um viajante espiritual, um mediador entre o mundo físico e o mundo dos espíritos, sendo um elo entre os dois mundos. A maioria das culturas tem sua própria terminologia para esse tipo de pessoa – seja um “Kupua” no Havaí, um “Diablero” no México, ou um “Pajé” nas tribos indígenas brasileiras, por exemplo.

Também se pode definir um Xamã, sendo que este pode ser um mestre tribal ou um curador, mas nem todo mestre tribal ou curador, será um Xamã. Pode ser um feiticeiro, um líder espiritual ou um curandeiro psíquico, sendo que nem todos destes, podem ser Xamãs.

Ao praticar sua cura, o Xamã tem uma visão diferente do mundo e de suas realidades, e é este ponto de vista tão único em si, a capacidade de “ver” as brechas do mundo e agir perante a isso,  – com o que chamamos de “Poder” – é que faz um Xamã ser o que é, seja ele um Xamã curador, ou mesmo um Xamã sombrio (sobre este último, futuramente escreverei uma publicação sobre.). Por falar em “Poder”, provavelmente já deve ter ouvido falar ou lido sobre os termos “animal de poder”, “ervas sagradas”, ou outros do tipo. Um Xamã, nunca agindo sozinho, possui seus aliados espirituais, que o guiam, e o aconselham com o que deve ser feito em uma determinada situação, e utilizam da ajuda de um espírito ancestral: seja ele um animal, uma planta, ou outro elemento da natureza.

Tudo o que é vivo possui um espírito, e tal espírito empresta ao Xamã o seu poder, para que dentro de um ritual, a cura seja feita. O Xamanismo é uma forma diferente de cura, e onde quer que seja encontrado ao redor do mundo, haverá uma forma diferente de xamanismo. Para ter uma ideia melhor do que quero dizer, lhes contarei pequenos contos sobre alguns xamãs ao redor do mundo (dê um play no áudio e permita-se viajar):

 

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“Em sua cabana, o payé kamsá canta para ser levado ao mundo espiritual, que em sua visão, é um espelho de sua floresta de origem. Lá, ele se encontra com o espírito de uma planta que deseja conhecer melhor, cantando músicas para saudar o espírito. O espírito da planta tenta escapar, mas ao ouvir a música, ele para e observa a canção do Xamã colombiano. Com o tempo, o pajé se torna amigo do espírito, consegue sua ajuda, e ensinamento de como usar o poder da planta, que agora é seu aliado, assim como seu animal de poder”.

“No meio da fumaça de um incenso, a Xamã de Tsugaru, no Japão, canta com uma voz suave para chamar os espíritos. Andando em círculos, ela segura firme em seu rosário feito de dentes de animais, em busca do animal certo para a cura de uma pessoa que lhe pediu ajuda. Cada dente oferece o poder espiritual necessário, para o que quer que ela precise.”

“Nos limites da estepe de Altai, ao leste da Sibéria, o Xamã toca seu tambor freneticamente, criando um ritmo intercalado em batidas fortes e sutis. Enquanto seu corpo toca, seu espírito viaja para o submundo, onde um ser imenso, semelhante a um leão marinho, bloqueia o seu caminho. Ele sabe que a criatura não vai ser derrotada, então recorre a artifícios para fazer uma passagem segura. Sabendo do perigo, o Xamã siberiano mostra o seu colar, com uma presa de leão marinho, que lhe dá proteção em sua passagem.”.

“O dia cai na floresta tropical brasileira, e o jovem índio guarani sabe que chegou o momento. Ao som da música cantada pelo pajé da tribo, ele deita sobre uma trilha de formigas lava-pés. Elas sobem em seu corpo, enfiando seus ferrões e liberando seu veneno no corpo do jovem guerreiro. Resistindo à dor, e focando nos ensinamentos que lhe foram dados, ele deixa seu corpo físico, e entra no mundo espiritual. No mundo dos espíritos, um aliado o recebe. Claramente, ele percebe a mensagem: ‘Sou o seu aliado, e te ensinarei o meu poder’ – A voz, vem do espírito da onça pintada, que revela ser o seu animal de poder – e parte para uma viagem em busca de sabedoria com o espírito ancestral. O jovem guerreiro acorda. Ele renasce. Agora, ele é um Xamã.”

 

Existe no mundo toda uma infinidade de crenças espirituais distintas, mas com algumas semelhanças entre si. A visão cultural influencia o evento, mas o formato básico é quase o mesmo, seja onde for. Não importa em qual lugar do mundo seja – como podem ler no início deste texto. Em ambos os casos, a ideia de ter experiência de interação com o mundo espiritual, é universal. As várias linhas de xamanismo então possuem exatamentXamanismoe esse ponto em comum: A propensão ao transe, interação com o mundo espiritual e os seres que lá habitam. É isso que une os praticantes espirituais, onde quer que estejam sob o nome genérico de “Xamanismo”.

E qualquer pessoa pode ser parte disso? Certamente, sim. Afinal, estamos no mundo moderno, portanto não é necessário viver em uma comunidade tradicional, vir de uma linhagem familiar de veteranos que passaram o legado de geração em geração: Basta apenas, o desejo de ouvir a voz suave dos espíritos. É preciso coragem para seguir o próprio caminho, ouvir os espíritos e ser orientado por eles.  Ser honesto consigo mesmo, e decidir  que é certo e o que é errado, de acordo com o que você acredita. Uma das coisas mais importantes no caminho de um Xamã é viver em harmonia com o fluir constante da natureza e do lugar que se vive; no fundo, isso só se aprende ao parar e ouvir tranquilamente. Encontrar seu espírito-guia, seu animal de poder, pode ser determinante na vida de uma pessoa, e não há regras sobre quem é capaz ou não, de seguir o caminho dos espíritos. Mesmo que hoje estejamos vivendo no mundo moderno, em meio à tecnologia que nos cerca, situações do dia-a-dia, basta aprender a “parar o mundo”, aprender a “ver o mundo”, e entrar em contato com a força espiritual existente dentro de si mesmo. Nos próximos textos desta série, conversaremos sobre os animais de poder, espíritos aliados, o adversário de poder, a canção sagrada, e outros temas.

Uma vez, um mestre me disse: “Quando se depara com a sua visão de poder e a percebe, sua visão do mundo e a percepção sobre si mesmo mudarão para sempre. Não há como voltar atrás, uma vez tendo conhecimento deste ponto. A única opção então é continuar caminhando em frente, não importa como, onde ou quando. Apenas prossiga, e no momento certo, os aliados surgirão.”.

O momento ideal é agora. E o lugar certo, aqui.

Até o nosso próximo encontro,
Wäkn.

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