Chokhmah Nistaroth
A expressão do dia é chokhmah nistaroth: a sabedoria contemplativa. As primeiras letras (chet e nun) formam chen, graça.
Há pouca evidência registrada sobre o funcionamento da meditação no judaísmo, exceto nos círculos fechados de estudos sobre cabala, claro. Especificamente, em grupos com linhagem bem definida. Não é exatamente segredo, é só uma daquelas coisas difíceis de explicar para quem está de fora.
Aqui vemos a cabala em sua essência:
- Cabala (kabalah: quf, bet, lamed, he) = 137
- Sabedoria (chokhmah: caf, chet, mem, he) = 73
- Profecia (nebuw’ah: nun, bet, vav, alef, he) = 64
Cabala = Sabedoria + Profecia
A capacidade de imaginar, de visualizar passado, presente e futuro sempre foi, ao menos metaforicamente, parte dos estudos abertos da cabala judaica. Como melhorar o mundo? Como será o dia de amanhã? O que acontece se eu plantar o trigo antes ainda quando estiver frio? E se eu mudar o curso do rio para irrigar aqui perto da cidade? Mas, entre aqueles textos antigos menos traduzidos, encontramos descrições para serem interpretadas literalmente sobre como a habilidade de invocar e conversar com os sábios do Tanakh.
Existem três princípios a serem levados em conta:
- vinculação
- equanimidade
- meditação
A vinculação (deveikut) é, na falta de melhor tradução, a capacidade de se conectar com aquilo a que se quer invocar ou com a entidade com que se quer conversar. Não basta querer chamar qualquer coisa, ser, entidade, anjo, planeta. É preciso construir uma ligação com o objeto de interação. Pode ser através do uso de memórias da própria vida (verdadeiras ou não), através de objetos mediadores ou pela ligação emocional da arte.
A equanimidade (hishtavut) é atingida quando removemos preconceitos tanto ruins quanto bons. A equanimidade sugerida na cabala é aquele em que nem pensamos mal de quem nos fez mal, nem pensamos bem de quem nos fez bem. Todas as pessoas com quem nos relacionamos são iguais.
A meditação é, então, atingida corretamente apenas na pureza dos pensamentos e ações. Ou, pelo menos, apenas aconselhável quando o praticante está livre de predisposições, influências externas ou outros vícios.
Exercício
O exercício aqui é de disciplina, não de resistência. Não é para meditar o maior tempo possível. É para meditar apenas no tempo combinado. E depois parar.
Encontre um objeto (símbolo religioso ou só uma memória antiga) ao qual deseja se conectar. Pense nele por 5 minutos. Apenas 5 minutos. Como ele se parece, quando seus caminhos se cruzaram pela primeira vez, como é o cheiro, como é o peso, onde está o ponto de equilíbrio. Se outras memórias surgirem, deixe virem e irem embora. Quando mais lembranças ou imagens diferentes passarem e forem embora, melhor. Se necessário use um despertador. Só 5 minutos e chega.
Parar é parte do exercício. Pare e deixe para trás e meditação. Esqueça dela. Não anote. Não registre. Sinta-se satisfeito com o que se fez. Saiba que amanhã terá mais 5 minutos para tentar de novo.
Repita no dia seguinte.
Conforme Chayim Vital
Dos poucos fragmentos sobre o assunto sobreviventes, traduzidos e disponíveis, o Shaarei Kedusha registra o processo de comunicação com o “sábio da Mishna”. Algo mais ou menos assim:
Em casa, sentado em silêncio, sinta seu corpo subir, levitar. Recite uma Mishna, qualquer Mishna. A boca é uma embarcação (recipiente da incorporação). Dela saem fagulhas de luz, que emergem da Mishna recitada. Sua alma se torna uma roupagem para a alma do sábio que escreveu a Mishna. Se tudo for bem, a exaustão tomará conta do corpo. O sábio toma conta da “boca” da pessoa, que pode agora conversar com o sábio, que responderá qualquer pergunta em pensamento que a pessoa tiver. Também é possível conversar com o sábio, que “ouve com os ouvidos e fala com a boca” da pessoa em estado meditativo.
Combine consigo mesmo (ou trapaceie usando um despertador!) que em 30 minutos você vai parar e escrever sobre o que aconteceu. E só. Depois vá descansar e voltar ao trabalho mundano. Se precisar, se quiser, repita apenas no dia seguinte quando estiver recuperado, quando as condições forem novamente propicias.
Sugestão de leitura para meditação
Iyov (Jó) 42:2-6
2 Sei que podes tudo, que nada te é muito difícil. 3 Quem é que obscurece assim a Providência com discursos ininteligíveis? É por isso que falei, sem compreendê-las, maravilhas que me superam e que não conheço. 4 Escuta-me, deixa-me falar: vou interrogar-te, tu me responderás. 5 Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram. 6 É por isso que me retrato, e arrependo-me no pó e na cinza.
Shbaa.
3 Comentários
Eita que buscando aqui sobre este tema, depois de ler a resposta sobre como o senhor “medtita”, ou “sonha” ou o que quer que seja, fazendo jornadas através da árvore da vida, o primeiro link que aparece do google é este. As vezes deixo algum detalhe passar, mas eu achei que havia lido todas as colunas do senhor neste blog, mas deixei passar esta… assim como deixei passar a opção de ser notificado por email em vários dos meus comentários. Enfim. As coisas começam a fazer mais sentido depois de ligar uma artigo seu à outro.
Mais uma vez grato!
Salve Sbhaa.
Pelo que entendi, começamos com 5 minutos, criando o vínculo, e depois aumentamos o tempo no objeto de nossa contemplação, até que de alguma forma o que está sendo observado faça contato com nós, em resposta à nossa afinização com ele.
Essa contemplação, se corretamente feita, no meu entender, conduz a um estado mais ou menos alterado de consciência, onde o contato é possível.
Esse tipo de meditação também pode ser usado pala as letras hebraicas, digo, seria possível compreendê-las melhor através dessa meditação, talvez meditando em trechos do Sepher Yetzirá (espero ter escrito certo)?
Grato!
Isso mesmo.
Claro que existem vários caminhos, mas esse é um caminho válido e que, pelo que eu entendo, funciona.
Se eu puder comentar sobre o que escreveste acima, digo que deve ficar claro que os exercícios iniciais são só exercícios. Escolha algo sem muito apego para os exercícios de 5 minutos, para aprender a focar e desapegar em seguida. Se deu certo, bom. Se não de certo, bom também.
E, sim, esse tipo de meditação pode ser utilizado para tentar compreender letras hebraicas e seus caminhos, e ler trechos do Sepher Yetzira é uma ótima ideia.
Shbaa.