Landvættir e o culto à natureza

O paganismo considera a Terra (que pode ser chamada de “Jörð” em nórdico antigo, nome também dado à giganta mãe de Þórr) como sagrada, vendo a existência em Miðgarðr como uma dádiva e voltando-se à natureza em culto. Em uma das manifestações mais básicas estão as oferendas aos Landvættir, um dos principais espíritos naturais das tradições germânicas.

Imagem destacada: Nataša Ilinčić

GenesisOs Landvættir são seres telúricos, sempre atados a elementos naturais – que vão desde árvores ou pedras para os menores, até rios, montanhas ou territórios inteiros para os maiores. Enquanto os menores tendem a ser mais frágeis, podendo ser prejudicados ou desaparecerem com a remoção de sua “morada”, os maiores costumam a ser sufocados pela depredação de seu ambiente porém dificilmente podem ser considerados “mortos”. Variam muito em aparência, indo desde animais ou pessoas até seres que parecem compostos dos elementos a que estão ligados (feitos de pedra, partes do solo ou árvores antropomórficas, por exemplo); algumas vezes, acabam associados ou confundidos com outros seres como os elfos e gigantes.

São de índole neutra e pendem para a amoralidade, com pouca preocupação com problemas ou necessidades humanas, e podem exercer grande influência no ambiente em seu entorno. Antigamente, ritos agrários visavam a harmonia com os Landvættir para garantir uma boa colheita; e até hoje na Europa e na Islândia temos locais que se tornaram reservas e que se mantém a tradição de que “não devem ser perturbados”, pois um dia foram consagrados por um Landvættr. Eles possuíam poder o suficiente para expulsar a ocupação humana caso fossem irritados, o que fazia inclusive que expedições viking ou colonizadoras seguissem certas ritualísticas para não atrair a fúria dos espíritos da terra invadida.

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Árvore em meio a avenida Faria Lima, em São Paulo
Porém, com a vida urbana e a forma que se deu a ocupação dos territórios, atualmente a influência dos Landvættir está sufocada – mas mesmo assim, é possível senti-la até em uma grande cidade. Um bom exemplo é quando no meio de uma avenida movimentada uma árvore frutífera é capaz de romper com o concreto e se erguer alta. Perceber essas pequenas manifestações, que são como se os Landvættir estivessem dizendo “nós ainda estamos aqui“, é o princípio do respeito que a natureza exige – sendo a fonte do nosso sustento e nossa relação com ela ditar diversos aspectos de nossa vida, este culto numa era contemporânea se manifesta não apenas na gratidão como também em atitudes que visam a harmonia com o ambiente.

Além disso, estas manifestações são exemplos de um aspecto que mais deve ser admirado na natureza – sua capacidade de remanifestação. A natureza é praticamente perpétua, e possui uma grande capacidade regenerar a si mesma – podemos observar isso em fotos de lugares abandonados, que são (re)tomados por vegetação. Outro bom exemplo são rios e córregos que passam por grandes cidades e são despoluídos – muitas vezes, peixes ressurgem nesses locais; e isso pode ser um indício do vættr do rio sendo aliviado de seu sufoco.

As religiões buscam se “reconectarem” com algo maior, e as predominantes no ocidente normalmente procuram no transcendental essa reconexão. Porém, no paganismo esse processo começa com a própria Terra, visando recuperar uma ligação que hoje se encontra quase perdida – mas que através da admiração e da gratidão, pode ser possível mesmo dentro da vida urbana que caracteriza a era contemporânea. Reencontrar os Landvættir em uma grande cidade indica não apenas um ponto de grande poder, propício para oferendas (após a devida autorização do vættr, é claro), como também o início da reconexão com Jörð.

Sjáumst bráðlega!

-Ravn

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Jól

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