Óðr – Inspiração e Loucura

O nome “Óðinn” deriva da palavra “óðr”, que pode significar “entendimento”, “senso”, “inspiração” ou mesmo “fúria”, “furor”. Atualmente, autores que buscaram fazer um mapeamento da estrutura da alma do ponto de vista nórdico deram o nome de “Óðr” ao seu aspecto mais elevado, o espírito e a consciência concedidos por Óðinn no momento da criação da humanidade. Este é o meu ponto de vista sobre o Óðr, a forma que ele se manifesta e como podemos entrar em contato com esse aspecto.

Imagem destacada: Nataša Ilinčić

Antes de tudo, é importante entendermos a mitologia por trás do “dom de Óðinn” e o uso do nome “óðr”. Na Edda Poética, é citado que o Alföðr teria concedido o “önd” à humanidade, palavra que pode ser tanto “alma” quanto “respiração”; em algumas interpretações contemporâneas, chamam de “önd” a energia vital que o corpo adquire ao respirar. A versão em prosa é mais específica, dizendo que Óðinn nos concedeu “o espírito e a vida”. Além disso, temos um mito onde Freyja possui um marido chamado “Óðr” que parte em uma jornada e nunca mais volta, deixando a deusa chorando de tristeza; teorias de pesquisadores contemporâneos partindo da raíz etmológica dizem que Óðr seria na verdade um disfarce do próprio Óðinn, que teria enganado a deusa para aprender seus segredos.

fd4aedd17ba40a01c627bfbe9bfca7b0[1]Enxergo o Óðr como o parte do presente da consciência nos dado pelo Alföðr, principalmente no sentido de “inspiração”. Mais do que uma parte elevada da alma, é quase que como um sentido que só é ativado em determinados momentos, mas nos permite sintetizar informações, conceitos e conhecimento de forma única e muitas vezes produzir algo novo. “Inspiração” é algo valorizado na cultura nórdica, associada aos skalds (bardos) e a bebida mágica “Hidromel da Poesia”, roubada dos gigantes por Óðinn; por isso, sentimos nossa mente acelerar, inundada com criatividade e idéias quando estamos no estado de Óðr. Momentos de concentração profunda (como na expressão do inglês “in the zone”) também são momentos em que estamos em contato com o Óðr.

Algumas pessoas, quando enebriadas por estes estados, dizem estar sentindo uma verdadeira “inspiração divina”. A partir disso, podemos compreender que em momentos que conseguimos perceber no cotidiano um sinal que nos orienta, que responde nossas dúvidas, que esclarece a um pouco da trama do Wyrd, entramos rapidamente em contato com nosso Óðr. São pequenos instantes em que houve uma manifestação deste sentido, porém profundamente significativos. Quando buscamos nossa espiritualidade e começamos a perceber o mundo como algo além do que material, nos aproximamos mais do Óðr nos aspectos de “entendimento” e “senso”, aguçando nossa percepção.

Porém, Óðr também pode ser “fúria” ou “furor”. O berserker, um guerreiro capaz de entrar em um transe furioso em batalha, é muito associado com Óðinn. O Óðr pode se manifestar como um ímpeto, muito semelhante a raiva, que nos compele a ir em frente e buscar aquilo que queremos. Também pode ser um estado em que a inspiração nos encheu com idéias que precisamos dar vazão de alguma forma, manifestar mesmo que como um rascunho, ao ponto de ser doloroso não colocarmos para fora. Às vezes, quando estamos impelidos atrás de algo que queremos ou repletos de idéias ousadas e inovadoras, podemos nos sentir próximos da loucura.

Mas, uma das formas mais intensas de contato com o Óðr, seria o ato da magia. Sua ligação com estados alterados (seja através da loucura do berserker ou da inebriação de um hidromel) permite uma associação com a prática magística, onde buscamos uma elevação de nossa consciência normal para podermos manipular aspectos mais sutis da mente e energias que percorrem a Árvore, para materializar uma idéia. Por isso, a inspiração é um grande motor para a magia, que também é uma forma de usarmos ativamente o Óðr.

Busquem o dom que Óðinn nos deu, este sentido que é capaz de se manifestar de tantas maneiras e é capaz de adquirir formas únicas para cada indivíduo. Despertem seus sensos que percebem o sutil, deixem a inspiração dar vazão, entrem em fúria e atinjam a loucura. Encontrem essa energia divina dentro de nós, que nos impulsiona e motiva sempre em frente, nos conduzem a feitos que ecoarão nas Sagas de nossas vidas. O Óðr precisa ser cantado!

Sjáumst bráðlega!

—Ravn

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