Wyrd&Ørlög – O Destino na Concepção Nórdica

Prostradas na Fonte de Urðr, onde se fincam as raízes da Yggdrasill, estão as três Nornir (singular: Norn) – deusas fiandeiras, regulando e servindo forças tão grandes e absolutas que os próprios deuses estão submetidos à elas. Para os Nórdicos, o Destino era visto de uma forma um tanto diferente da visão que o ocidente está acostumado hoje; ao compreendê-lo, percebemos a forma que os pagãos se relacionam com seus próprios atos e lidam com conseqüências.

Imagem destacada: Nataša Ilinčić

“Wyrd bið ful aræd” (O Destino é inexorável) – Ditado anglo-saxão

Para começar a compreender o Destino, devemos primeiro entender as Nornir. Seus nomes derivam de formas do verbo “ser” – Urðr, a anciã que divide o nome com a própria Fonte, derivado do prefixo (“Ur-“) que indica a origem de alguma coisa (podendo ser tomada como “aquilo que foi“) e rege o passado que dita acontecimentos posteriores; Verðandi , a senhora cujo nome pode ser compreendido como “aquilo que está sendo”, que rege a mudança constante do presente; e Skuld, a mais jovem, que o nome pode ser entendido como “poderá se tornar” (mas que também é um sinônimo de “dívida” ou “cobrança”) e rege as possibilidades que se moldam e solidificam aos poucos de acordo com as ações do presente. Outra função atribuída a estas deusas é a de reparar os danos causados às raízes da Yggdrasill pelo dragão Níðhöggr, usando a lama da Fonte de Urðr.

As Nornir, por Arthur Rackham (1911)
As Nornir, por Arthur Rackham (1911)

Apesar da tríade, um olhar atento aponta que regem conceitos diferentes de “passado-presente-futuro”. A concepção nórdica se apoia mais em uma dualidade, de acordo com os conceitos de Ørlög e Wyrd (termo anglo-saxão que mais tarde gerou a palavra “weird” do inglês contemporâneo, e sinônimo de “Urðr” do nórdico antigo; aqui foi dado preferência ao termo saxão, por ser mais comum em livros e materiais de pesquisa). Analisando o primeiro termo, temos o já citado prefixo “Ur-“ junto da palavra “lög” (“lei”), resultando em algo como “leis primárias”; consiste em uma “lei maior” de que as Nornir são apenas servas, e não determinadoras – portanto, todos os seres de todos os mundos, mesmo os deuses, estão submetidos ao Ørlög. Ele é consistido das leis da Natureza e de fatores externos (macrocósmicos) que nos influenciam, estando além do nosso controle e muitas vezes se impondo de forma restritiva. Por isso, muitos apontam que o primeiro Ørlög a que somos submetidos é o local e as circunstâncias de nosso nascimento e nossa família, já que ambos poderão determinar por exemplo um acesso mais fácil a oportunidades na vida de cada um.

Já o Wyrd é como uma teia, com fios ditados pelo Ørlög, regendo a relação de causa-efeito. Sempre que tomamos uma ação, uma cadeia de consequências que não podem ser impedidas é desencadeada, por isso muitos eventos são inevitáveis; e pela natureza de teia do Wyrd, podem atingir não apenas nós como também pessoas a quem somos ligados. Potenciais estão emaranhados no tear em que o Wyrd é tecido, sendo liberados e se solidificando de acordo com as nossas escolhas. Tudo aquilo que somos e que nos tornaremos é determinado pelos nossos atos; o pagão sempre deve estar pronto para lidar com as conseqüências de suas escolhas. Não são poucos os poemas e textos eddicos e as sagas que nos lembram não apenas de como o Destino pode ser implacável, como da necessidade de fazer sacrifícios e pagar o preço devido por tudo o que desejamos.

As Nornir, em seu dever de observadoras e fiandeiras, nos lembram de que somos os senhores de nosso próprio destino, pois por mais que detenham o conhecimento do Wyrd apenas podem seguir o que é ditado pelo Ørlög. Nossos atos se comportam como fios, se entrelaçando e entremeando, definindo o desenho de uma complexa tapeçaria onde se reflete a nossa vida. Um modo fácil de compreender a relação entre ambos é imaginar que estamos percorrendo uma estrada e nos deparamos com uma encruzilhada; o número específico de caminhos que podemos escolher para prosseguir nossa caminhada é o Ørlög (assim como, por exemplo, uma chuva ou outro fator climático e obstáculos que podem ter caído na estrada), mas aquele que for escolhido por nós irá determinar o nosso Wyrd. Portanto, o presente pode ser compreendido como uma resultante entre os dois conceitos – o momento em que as conseqüências do que já foi realizado se tornam nosso Ørlög e nos restringe, porém nossos atos atuais se desenrolarão em nosso Wyrd.

Sjáumst bráðlega!

–Ravn

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